domingo, 24 de fevereiro de 2008

FANFIC - UM HERDEIRO PARA PEMBERLEY


FANFIC - UM HERDEIRO PARA PEMBERLEY


Capítulo 1

A diligência seguia sacolejando pelas estradas poerentas e a cada hora a viagem se tornava mais penosa e cansativa. Elizabeth sentada ao lado de sua criada Emily, tentava descansar de olhos fechados, mas a tensão do dia deixara o seu corpo dolorido e ela sabia que não conseguiria sequer cochilar, quanto mais dormir.

Os demais passageiros no carro de aluguel eram um casal de meia idade e dois senhores que pareciam ser homens negócios, todos pareciam cansados e para alívio de Elizabeth permaneciam calados, ora cochilando, ora olhando a paisagem que se descortinava pelas janelas do veículo.

Chegaria a Londres ao anoitecer, Elizabeth procurava não pensar em nada, porque não queria cair em pratos na frente da criada e daquelas quatro pessoas estranhas. Ainda não resolvera se iria para a casa de seus tios Gardiner ou se ficaria numa hospedaria, se fosse para a casa dos tios teria que explicar porque estava viajando sozinha, apenas na companhia de uma criada e ela não estava em condições de expor os seus problemas a ninguém. Mas, ficar numa hospedaria parecia uma perspectiva pouco agradável, depois de muito pensar resolveu que passaria a noite na casa dos tios em Gracechurch Street, embora soubesse que seria o primeiro lugar onde Darcy a procuraria em Londres.

[i]"Meu Deus, o que devo fazer? O que será de minha vida daqui para frente? Não posso me desesperar, tenho que pensar racionalmente. Chegando em Londres, vou para a casa de meus tios, lá terei abrigo e o conforto de pessoas que me amam. Vou dizer a eles que estou viajando para visitar Jane e não contarei nada do que aconteceu. Eles já têm os seus problemas e não precisam dos meus para se preocuparem. Amanhã mesmo irei embora para Netherfield e ficarei com Jane, tenho certeza que apesar da amizade de Charles por Darcy, ele não me negará abrigo, afinal ele é meu cunhado e sempre mostrou afeição por mim... Poderei ajudar Jane a cuidar do seu bebê, o pequeno Joshua e seremos todos felizes. Quem sabe se Darcy nem vai se dar ao trabalho de vir atrás de mim, depois de tudo que aconteceu."[/i] Traçando mentalmente estes planos, Elizabeth sentiu-se um pouco mais calma.

Dentro do horário previsto, a diligência chegou a seu destino, Elizabeth e a criada tomaram um coche de aluguel e rumaram para a casa dos tios, a surpresa deles foi sem tamanho, não esperavam de forma alguma a sobrinha aparecer no início da noite sozinha, acompanhada apenas de uma criada. Mais estranho ainda, porque Darcy tinha uma bela residência em Londres, onde morava sua irmã e o lógico seria que Elizabeth se hospedasse lá, ao invés de buscar abrigo na casa dos tios.

- O que aconteceu Lizzy? Onde está seu marido? Como ele deixou você viajar praticamente sozinha? - perguntou o tio Gardiner muito espantado.

- Não aconteceu nada, vou visitar Jane, quero ficar uns tempos com ela e o pequeno Joshua e como Fitzwilliam está ocupado com problemas da administração de Pemberley, resolvi vir sozinha.

Elizabeth sentiu pelo olhar de sua tia que ela não acreditara em uma palavra do que ela lhe dissera, mas por outro lado o tio parecia ter aceito a explicação que ela lhe dera.

A tia providenciou primeiro o banho de Elizabeth, e depois o jantar e enquanto a sobrinha comia fez-lhe companhia, a conversa da tia girou em torno de assuntos triviais, contou como estavam seus filhos, as notícias que tivera de Longbourn, a última moda de vestidos e chapéus em Londres. Elizabeth sentiu-se grata pela discrição da tia, mas tão logo ela terminou o jantar. Esta a segurou pelo braço e disse com firmeza:

- Lizzy, sinto que você está muito nervosa. O que aconteceu, menina? Por que está viajando sozinha?

- Desculpe, minha tia...não é falta de confiança na senhora, é que eu estou tão perturbada que prefiro não falar no assunto.

- Diga-me, Darcy tem conhecimento desta sua viagem?

- Não, eu me aproveitei da ausência dele para viajar, ele está no condado vizinho a negócios. Amanhã ele deve estar voltando a Pemberley, é quando saberá que parti.

- Lizzy, respeito o seu silêncio, mas quero lhe lembrar que em nossa sociedade não há lugar para mulheres separadas de seus maridos. Pense bem nisso, mulheres separadas são consideradas párias, mulheres perdidas, não importa se a causa e o culpado da separação foi o marido, a mulher sempre carregará o ônus da culpa.

- Tia... agradeço a sua acolhida, sua compreensão e prometo à senhora que vou pensar seriamente nas suas palavras. Desculpe, mais uma vez por não lhe contar o que está acontecendo agora, preciso de tempo para refletir sobre os acontecimentos e conseguir pensar em tudo com clareza.

Respeitando o desejo da sobrinha, a Sra. Gardiner não a forçou a fazer confidências. E na manhã seguinte, agradecendo a hospitalidade dos tios, Elizabeth partiu para Netherfield na companhia da criada.


Capítulo 2

Tão logo Darcy chegou a Pemberley de volta de sua viagem de negócios, perguntou por sua esposa, a Sra. Reynolds muito constrangida e nervosa, informou que Elizabeth não se encontrava na casa.

- Como não se encontra, onde ela está Sra. Reynolds? Foi fazer compras em Lambton?

- Sr. Darcy, ela viajou...

- Viajou... para onde?

- Nós não sabemos, ontem após o café da manhã, ela pediu a Barnes que aprontasse o coche, pois iria até Lambton. Partiu em companhia de sua criada de quarto Emily, levando uma pequena bagagem. Pediu a Barnes que a deixasse na parada da diligência e ele a viu tomando o carro das 11 horas que segue para Londres. Ela não falou de seus planos de viagem com ninguém aqui da casa, supomos que deve ter ido para Londres.

Darcy sentiu-se, imediatamente, muito irritado, não conseguia acreditar que Elizabeth pudesse agir tão irresponsavelmente, expondo-o ao ridículo diante da criadagem, pois todos sabiam que ela partira sem a ciência e o consentimento do marido.

Ele passara os dois dias em que viajara, pensando apenas em sua amada Lizzy, não entendia porque o relacionamento deles estava se deteriorando de uns meses para cá, sentia que Lizzy estava distante, calada e arredia. E a situação havia piorado a cerca de uns 12 dias atrás quando tiveram uma discussão séria.

Quando Darcy entrou no quarto de Elizabeth para dormir com ela na ampla cama de casal, como fazia todas as noites desde que se casaram. Ela estava escovando seus longos cabelos, sentada em frente ao espelho e através deste olhou para Darcy, dizendo secamente.

- Fitzwilliam, peço que você durma em seu próprio quarto esta noite, pois estou com muita dor de cabeça.

- Lizzy, se você está com dor de cabeça prometo não incomodá-la, mas quero ficar com você, segurá-la em meus braços, prometo ficar calado para não aumentar a sua dor de cabeça.

- Eu prefiro ficar sozinha, por favor, não insista.

- Lizzy, sei que talvez não seja o momento adequado para termos esta conversa, mas não vou conseguir dormir se não expor agora aquilo que está me atormentando a algum tempo. Tenho percebido que você está estranha, não é mais a minha Lizzy dos nossos primeiros meses de casados. Sinto que se entrega a mim por obrigação, não existe mais em você aquela paixão, aquele amor que havia no começo. Quero saber o que houve para você mudar tão radicalmente? Onde foi que eu errei, onde foi que falhei? Seja sincera e franca comigo, se errei quero consertar meu erro, pois só posso ser feliz tendo de volta a esposa carinhosa que tinha, sempre pronta a fazer um gesto amoroso ou dar uma palavra de carinho para mim. Não suporto viver desta forma, vendo-a tão fria e distante.

Lizzy sentia sua garganta se fechando e seus olhos marejarem de lágrimas, sabia que não seria capaz de conversar com o marido sob os efeitos da forte emoção que sentia, iria chorar e esta era última coisa que queria fazer em frente ao marido.

- Já lhe disse que estou com uma forte dor de cabeça, por favor, Fitzwilliam deixe-me sozinha esta noite.

Profundamente irritado, Darcy saiu do quarto da esposa a passos largos batendo a porta num gesto de irritação.

No dia seguinte, Darcy e Elizabeth continuaram cada qual escondido atrás de uma muralha de orgulho, Darcy achava que a iniciativa de esclarecimento deveria partir da esposa, após a tentativa de aproximação dele na noite anterior e Elizabeth, por sua vez, estava tão certa da traição do marido que não queria ouvir negativas mentirosas.

Durante sua viagem de negócios Darcy decidira que voltando para casa teria uma conversa séria com Elizabeth e tudo seria esclarecido, não poderiam continuar vivendo desta maneira, falando o estritamente necessário um com o outro, dormindo em quartos separados e fingindo que tudo estava bem.

Agora Elizabeth partira e Darcy em seu desespero só tinha um pensamento, trazê-la de volta a Pemberley, trazê-la de volta para seus braços e restabelecer o relacionamento perfeito de outrora.

- Sra. Reynolds, diga ao Barnes que prepare o coche agora, estou indo imediatamente a Londres buscar minha mulher.

- Mas, saindo esta hora o senhor chegará a Londres tarde da noite. As estradas ficam perigosas à noite, a gente ouve tantas estórias de assaltantes de estradas.

- Sra. Reynolds, gostaria que algum deles ousasse me assaltar, eu o mataria com minhas mãos. Seria, sem dúvida, uma boa forma de descarregar minha fúria. Por favor, faça o que lhe pedi, avise o Barnes.


Capítulo 3

Jane e Charles Bingley receberam Elizabeth com muita alegria, tentando não demonstrar o espanto e a apreensão diante desta visita tão inesperada, pois logo pressentiram que havia algo errado. Os Darcys haviam ido a Netherfield após o nascimento do primeiro filho dos Bingley para conhecer e batizar o sobrinho, na despedida Darcy deixara claro que só voltariam a se ver dali a uns 6 meses, pois não poderia se ausentar de Pemberley.

Elizabeth estava feliz de rever a irmã que parecia ainda mais linda do que antes, a maternidade parecia ter-lhe aumentado a beleza e o sobrinho Joshua era a criança mais linda que ela já vira, loiro como a mãe, os olhos azuis do pai, era uma criança calma e risonha que parecia ter herdado o bom gênio de ambos.

- Como ele cresceu e como está lindo! Jane como estou feliz em voltar a Netherfield, estar junto de você, de Joshua e de Charles. Espero não estar causando nenhum transtorno a vocês com esta visita inesperada.

- Você sabe perfeitamente que sempre será bem vinda nesta casa, Lizzy. E Darcy como está?

- Ele está bem...

Elizabeth carregava o sobrinho no colo, acariciava a cabecinha do bebê, sentindo que seus olhos se enchiam de lágrimas. Jane percebendo a emoção da irmã, tomou-lhe o filho dos braços, tocou a sineta, pediu a criada que chamasse a babá da criança para que ela fosse levada para seu quarto.

- Lizzy, o que houve? Por que você veio para cá de repente, sem nos avisar e sem Darcy?

- Jane, eu não sei o que faço de minha vida, não consigo mais viver com ele... Soube que ele arrumou outra mulher em Londres...

- Lizzy, você deve estar enganada... de onde tirou esta idéia, minha irmã?

- Ele tem viajado muito a Londres, todos os meses e no mês passado passou mais de 15 dias lá. Então, recebi esta carta de sua cunhada Caroline que reforçou minha suspeita, tome... leia você mesma.

"Cara Elizabeth Darcy:

Você há de estranhar esta missiva, pois não temos por hábito nos correspondermos. Mas, tendo em vista os laços de família que agora nos unem através de meu irmão Charles e diante da gravidade dos fatos que tomei conhecimento, sinto-me na obrigação de lhe contar o que está acontecendo, tenho certeza que você se sentirá agradecida por esta minha iniciativa.

Como é de seu conhecimento, eu e minha irmã Louise frequentamos a alta sociedade londrina, naturalmente, sabemos de tudo o que passa neste círculo restrito. Últimamente, temos notado com frequência a presença de nosso amigo Darcy, em teatros e festas acompanhados de membros da família Marson que são velhos amigos dos Darcys, dentre eles está sempre presente a bela Rebecca Morgan, que em solteira era Rebecca Marson.

Esta senhora foi casada com Stephen Morgan, e enviuvou a cerca de 1 ano e meio, passado o seu período de luto voltou a frequentar a sociedade e tem sido vista em constante companhia de seu esposo, que demonstra ter um prazer muito grande em estar em sua companhia em vários eventos sociais. Lamento dizer que este fato anda causando certo constrangimento e falatório geral, tendo em vista que a referida senhora é viúva e o Sr. Darcy um homem casado.

Gostaria de alertá-la que esta senhora já nutriu no passado esperanças de se tornar a senhora Darcy, mas que acabou se casando com o Sr. Morgan, haja vista que o Sr. Darcy parecia, na época, relutante em propor-lhe matrimônio.

Não sendo minha intenção inquietá-la, mas simplesmente alertá-la do que anda ocorrendo.

Sua sincera amiga.
Caroline Bingley"

- Lizzy, minha querida, você sabe que não gosto de pensar mal das pessoas, acho que Caroline está equivocada. Não deve haver nada entre Darcy e a Sra. Rebecca Morgan, são amigos de família, freqüentam o mesmo círculo social, então é natural que cultivem esta amizade, fiquem juntos em festas e teatros.

Jane dobrou com cuidado a carta e a devolveu para Elizabeth. Após alguns minutos de silêncio, Jane falou cautelosamente.

- Encontrei também uma carta desta mulher dirigida a Fitzwilliam ... sei que não deveria ter feito isto, por favor não me condene ..., mas acabei por lê-la. Ela se referia a Fitzwilliam com tanta intimidade, em termos tão afetuosos, dizendo o quanto estava feliz por poder reatar relações com ele, que ele não imaginava o prazer que ela sentia em poder desfrutar novamente da companhia dele. Não é estranho uma mulher se dirigir a um amigo de família desta forma, Jane?

- Sim... é estranho, devo concordar com você, mas você devia mostrar a carta de Caroline a Darcy e questioná-lo sobre esta mulher, já que não vai poder dizer que leu uma carta dirigida a ele. Neste ponto, não pode negar que Caroline fez-lhe um favor.

- Depois, ele tem viajado a Londres todos os meses, alegando que tem negócios a tratar lá e que também precisa estar perto de Georgiana, que está numa idade difícil ... E há uns 10 dias atrás o Coronel Fitzwilliam esteve em Pemberley, numa conversa com Darcy, sem perceber que eu estava entrando na sala, comentou sobre uma noite em que estiveram no teatro, que Rebecca estava linda, que a viuvez acrescentara um encanto especial a ela e que ela parecia encantada por ter novamente a companhia deles, aí o coronel percebeu que eu havia entrado na sala, parou abruptamente a conversa, percebi até que corou e ficou desconcertado. São estes fatos somados que me levaram a ter certeza que deve haver muita verdade nas afirmações de Caroline. Jane... sinto que Fitzwilliam não é mais o mesmo de quando nos casamos há um ano atrás. Ele voltou a ser aquele aristocrata altivo, frio e orgulhoso... Há uns quinze dias atrás, tivemos um desentendimento e agora só conversamos o necessário, a situação entre nós está insustentável, por isso resolvi partir...

- Minha irmã, antes de tomar uma medida tão drástica, como fugir, você chegou a conversar com ele?

- Não, pois tenho certeza que se eu confrontá-lo, ele irá negar tudo. A carta de Caroline, os fatos todos parecem um quebra-cabeças cujas peças vão se encaixando, uma a uma. Não suportaria vê-lo negar tudo com aquele cinismo próprio dos maridos traidores.

Jane balançava a cabeça em negação, não sabendo mais o que falar à irmã para convencê-la a mudar de atitude.

- Mas tudo pode não passar de um mal entendido. Tenho certeza de que se trata de um mal entendido. Darcy adora você Lizzy, ele seria incapaz de traí-la, ele e Charles são homens de palavra e nos votos de nosso casamento eles prometeram nos amar, respeitar e honrar.

- Se todos os homens cumprissem a risca os votos de seus casamentos, não haveria tantos casamentos infelizes no mundo... Estou tão confusa e tão desesperada, Jane.

- Mas quem sabe Darcy tenha uma explicação para tudo isso e você está se preocupando à toa, Lizzy. Venha mandei preparar um quarto para você, quero que descanse, você está esgotada da viagem e das preocupações que a afligem. Amanhã, após uma boa noite de sono estará se sentindo melhor e poderá avaliar com maior serenidade seus problemas.

Capítulo 4

Darcy chegou a Netherfield Hall, na tarde do dia seguinte a chegada de Elizabeth, Charles Bingley saudou-o com sua cordialidade habitual, feliz por rever o amigo, fingindo não perceber os gestos nervosos e a raiva controlada no olhar do amigo, perguntou se Darcy fizera boa viagem, como estavam as estradas, sobre o tempo e por fim falou com orgulho do filho que crescia forte e saudável. Não podendo mais se conter, Darcy o interrompeu bruscamente.

- Fico feliz que meu afilhado esteja bem, podemos mais tarde conversar sobre todos estes assuntos. Charles, no momento preciso conversar urgente com minha mulher.

- Infelizmente, Lizzy não está aqui...

- Como não está aqui? Passei na casa dos Gardiner em Londres e eles me informaram que ela veio para cá. Será que você, meu amigo, está querendo ocultar minha mulher?

- Darcy, se você me deixar terminar de falar, eu explico. Lizzy, Jane e o Joshua foram visitar os Bennets em Longbourn e creio que estarão de volta daqui a uma hora mais ou menos.

Darcy reprimiu um impropério e começou a andar pela sala, Bingley ficou a observar o amigo que caminhava em círculos pela sala.

- Darcy, quer tomar alguma coisa?

- Não, obrigada. Tem certeza que estarão de volta em uma hora? Não quer mandar um criado avisá-las para voltarem logo?

- Não há necessidade, Jane não se atrasará porque não gosta que Joshua fique muito tempo fora de casa. Darcy, por que você está tão impaciente e nervoso? Nunca o vi neste estado... houve algo entre você e Elizabeth, não é? Estranhei a vinda inesperada dela, mas Jane não quis comentar nada comigo, dizendo que não poderia trair as confidências que a irmã lhe fizera.

Darcy continuou dando círculos pela sala, parando a todo instante na janela para verificar se a carruagem que trazia a esposa despontava no horizonte, o que só veio a acontecer mais ou menos uma hora depois, conforme seu amigo havia dito. Ele se precipitou pela porta principal do casarão e aguardou no pátio da chegada da carruagem. A primeira a descer foi Jane carregando o filho adormecido nos braços.

- Darcy, que prazer tê-lo de volta em Netherfield.

- Prazer é meu, Jane. Espero que meu afilhado esteja bem de saúde.

- Sim, ele está ótimo.

Assim que desceu da carruagem, Elizabeth sentiu o olhar irado de Darcy sobre ela. Sentiu seu coração disparar e um frio na boca do estômago, nunca vira o marido com aquela expressão tão zangada.

- Bingley, Jane, por favor, nos dêem licença, pois eu e Elizabeth temos que ter uma conversa particular.

E antes que alguém dissesse alguma palavra, Darcy segurou o braço direito da mulher e conduziu-a rapidamente para dentro da casa.

- Fitzwilliam, por favor, você está fazendo uma cena na frente de todos.

- Vamos logo para o seu quarto, se não quiser ter esta conversa particular aqui mesmo, onde todos poderão ouvir, inclusive os criados.

Elizabeth subiu rapidamente as escadas que conduziam ao seu quarto, seguida por Darcy que não largou o seu braço. Entraram no quarto e após fechar a porta, Darcy voltou-se para a mulher e perguntou nervosamente:

- Agora me explique... o que significa esta fuga de Pemberley.

Elizabeth pensara em seguir os conselhos de Jane e mostrar-lhe a carta de Caroline, mas ela estava tão obcecada pela traição de Darcy que não acreditaria se ele negasse tudo diante das evidências que ela tinha.

- Eu não fugi, apenas não estou mais suportando viver com você. Fitzwilliam, nosso casamento foi um erro, agora que aquele encanto dos primeiros tempos acabou, sinto que Lady Catherina tinha razão, não sou a mulher ideal para ser sua esposa, não sei administrar uma casa enorme como Pemberley, não sei receber seus amigos, me sinto insegura o tempo todo. E... sinto a algum tempo que meu amor por você acabou.

- Não sei se estou meio obtuso, hoje. Mas, a senhora está querendo me dizer que não deseja mais viver comigo? É isto?

- Sim, eu ainda não conversei com Charles e Jane, mas tenho quase certeza de que eles não vão se opor que eu venha a morar com eles, posso ajudar Jane a cuidar de Joshua e dos outros filhos que ela vier a ter. Viverei uma existência pacata aqui, você pode ficar tranquilo porque jamais me envolverei em escândalos, que poderão prejudicar o bom nome de sua família ou envergonhar você perante a sociedade.

Darcy estava atônito, mal acreditava no que ouvira. Teria sua mulher enlouquecido? O que acontecera para que um relacionamento perfeito como o deles tivesse se deteriorado a esse ponto?

- Lizzy, você só pode estar delirando, nosso casamento ia tão bem até um tempo atrás, não consigo entender o que está acontecendo conosco. Acho que podemos perfeitamente, como pessoas adultas e sensatas, conversarmos e acertarmos as nossas diferenças sem ter que apelar para medidas tão extremas. Não existe o menor cabimento nesta sua proposta, uma esposa não vive distante de seu marido sem que haja o maior dos escândalos.

- Eu não me importo com o que os outros vão falar.

- Não tenho nenhuma queixa a fazer quanto a sua administração de nossa casa, a Sra. Reynolds já me disse várias vezes que tudo corre bem lá e que ficou surpreendida com o seu jeito de lidar com os criados, que você é firme e delicada com eles. Todas as vezes que tivemos hóspedes em Pemberley, você os recebeu muito bem, muitos deles até me disseram que você é uma anfitriã perfeita, com exceção de minha tia Lady Catherine, mas ela não conta, porque ela é perita em encontrar defeito em tudo... Não sei o que se passa em seu coração, mas não creio que o seu amor por mim possa ter morrido assim tão cedo e tão subitamente, sem nenhum motivo.

- Fitzwilliam, o que devo fazer para provar que não o amo mais e que não quero mais viver com você? Nada do que me disser irá me convencer do contrário.

Darcy começou a andar pelo quarto de um lado para outro, como fazia sempre que ficava muito nervoso. Olhava para Elizabeth, passava as mãos em seus cabelos desalinhados e continuava a andar, após alguns minutos que para Lizzy pareceram horas, ele parou em frente a ela e disse numa voz arfante entrecortada pela profunda emoção que sentia.

- Não vou aceitar que a senhora viva longe de mim, é minha esposa e seu lugar é ao meu lado.

- Mesmo contrariando minha vontade? Mesmo sabendo que estarei ao seu lado apenas por obrigação?

- Mesmo contra sua vontade, senhora. Não vou servir de zombaria e maledicência da sociedade. Tenho que zelar pelo bom nome da minha família e gostaria também de lembrá-la que a senhora ainda não cumpriu sua obrigação principal em nosso casamento que é a de me dar um herdeiro.

Elizabeth sentia suas pernas fraquejarem, apoiou-se a um móvel próximo.

- Amanhã pela manhã partiremos de volta a Pemberley, é a minha decisão final. Mande sua criada deixar sua bagagem preparada, pois sairemos bem cedo. Com licença.

Darcy se retirou e Elizabeth caiu num prato convulsivo, mais tarde alegando indisposição, ela não desceu para o jantar. Em vão, Jane a procurou para conversar com ela, Elizabeth fingiu que dormia quando Jane entrou em seu quarto. Não tinha mais nada a dizer para ela, não queria perturbar a felicidade da irmã com seus problemas e sua infelicidade.

Capítulo 5

A volta a Pemberley foi marcada pela total mudança no relacionamento entre Elizabeth e Darcy, os criados sempre muito discretos fingiam não perceber que o casal antes tão amoroso, já não trocavam mais olhares cheio de ternura, nem gestos carinhosos, que beiravam a indiscrição, quando pensavam que os criados não os estavam observando.

Darcy, como de costume, acordava muito cedo, tomava o café da manhã sozinho e depois, ou se fechava em seu escritório, ou percorria suas terras sozinho ou com o administrador. Normalmente, só encontrava a mulher no jantar, conversavam com civilidade, apenas o essencial e ficavam ambos mudos a maior parte do tempo, numa atmosfera constrangedora.

Elizabeth sentia-se a cada dia mais infeliz, a transformação do marido amoroso naquele homem distante e sombrio, que a tratava de "senhora" e ou de "Elizabeth", nunca mais de "Lizzy" ou mesmo "Lizzie", a deixava mortificada. Tinha dúvidas terríveis quanto a forma como agira com ele, pensava se não teria errado ao esconder dele a carta de Caroline e as evidências que colhera sobre a suposta traição do marido, porque agora já começava a ter dúvidas de tudo, se não fora precipitada e agira impulsivamente.

Deveria ter seguido os conselhos de sua sensata irmã Jane, mas agora tudo parecia perdido, como voltar atrás e conversar com Fitzwilliam quando ele mal olhava para ela e parecia evitá-la sempre que podia.

Elizabeth pensou que após a conversa que tiveram em Netherfield, o marido a procuraria para exigir que ela cumprisse suas obrigações de esposa, logo que chegassem a Pemberley. Na primeira noite, preparou-se para dormir, deitando-se na imensa cama de casal, com o coração aos saltos, esperava que o marido entrasse a qualquer momento pela porta de comunicação dos dois quartos, não imaginava como seria fazer amor com o marido nas atuais circunstâncias, pois a relação anterior deles sempre fora repleta de muito amor e carinho. Mas apesar da longa espera que avançou madrugada a dentro, Fitzwilliam não a procurou e a cada noite Elizabeth o esperava e a cada dia ficava mais ansiosa e angustiada.

"Como ele quer que eu lhe dê um herdeiro se ele não me procura? Ele evita minha companhia e quando estamos juntos evita meu olhar e fala apenas o necessário." Apenas conseguia conciliar o sono de madrugada, quando o cansaço a vencia, Elizabeth sonhava constantemente que estava nos braços do marido, se beijavam e faziam amor numa ânsia incontida, ela acordava destes sonhos, suada e trêmula, sentindo o corpo tenso de desejo insatisfeito.

Darcy, por sua vez, sabia que não iria exigir da mulher o cumprimento de seus deveres conjugais, contra sua vontade. Como obrigar uma mulher que já não o amava a ter relações com ele. No calor da discussão que tiveram em Netherfield dissera que ela lhe devia um herdeiro, mas este herdeiro na opinião de Darcy deveria ser concebido num ato de amor verdadeiro, com a participação consentida de ambos. Ele sabia que não queria fazer amor com uma mulher que se entregava a ele por obrigação, sem amor. Afinal, se tinha algo de que ele se orgulhava era o de ser um perfeito cavalheiro.

Assim transcorriam os dias em Pemberley.

Uma certa manhã, após tomar seu café da manhã sozinha, Elizabeth saiu como era seu costume para dar uma volta, a manhã estava linda, o céu de um azul cristalino, a vegetação de um verde luxuriante, o ar estava frio e ela foi caminhando sem sentir que se distanciara bastante dos limites dos extensos parques de Pemberley, começou a avistar ao longe uma rochas enormes e lembrou que estivera naquele lugar com os tios Gardiner quando vieram a passeio em Derbyshire, sabia que estas pedras ficavam bastante distante das terras de Pemberley, mas não se importou com a distância e foi caminhando até elas, pensou que se caminhasse bastante conseguiria dormir melhor à noite.

O lugar era realmente lindo, com aquelas formações rochosas estranhas, Elizabeth resolveu escalar uma pedra para poder observar melhor o vale que se descortinava abaixo, subiu com cuidado, sentou-se no alto da pedra e ficou um longo tempo observando a paisagem, sentido a brisa em seu rosto, a cada dia se apaixonava mais por aquela região, se pudesse ter ficado em Netherfield, tinha certeza que iria sentir muita falta de Pemberley, de Derbyshire e de Darcy, pois apesar de tudo que acontecera, ainda o amava profundamente e jamais deixaria de amá-lo.

Olhando a posição do sol no céu, Elizabeth concluiu que passava do meio-dia, era hora de voltar para casa, a Sra. Reynolds deveria estar esperando-a com o almoço. Ela foi descendo a pedra com cuidado, até que seu pé escorregou, ela perdeu o equilíbrio e caiu, torcendo fortemente o pé direito e batendo a cabeça numa pedra. Sentiu uma dor muito forte no pé e na cabeça, e perdeu os sentidos, quando voltou a si, estava caída na terra, a roupa suja de terra, a cabeça e o pé latejavam de dor. Tentou se levantar cuidadosamente, apoiando-se na pedra onde batera a cabeça, mas logo percebeu que não conseguiria ficar em pé, pois o pé direito doía terrivelmente.
Apesar da situação, Elizabeth tentou manter a calma, precisava agir, pois sabia que ninguém sabia de seu paradeiro, caminhara para aquele lugar seguindo a vontade do momento, não avisara a ninguém que iria para lá, normalmente seus passeios matinais se resumiam aos limites dos parques e bosques de Pemberley, que eram bem extensos.

Ela rasgou um pedaço de sua anágua e enfaixou o pé com bastante força, tentou levantar novamente, apesar da forte dor que sentiu pelo menos desta vez conseguiu ficar em pé, mas ao tentar andar, não conseguiu colocar o pé contundido no chão.

"Meu Deus, como vou fazer agora para voltar para casa, mal não consigo ficar em pé, quanto mais caminhar, como vou conseguir ajuda neste lugar tão ermo? O que fui fazer?"

Capítulo 6

Darcy chegou a casa de suas visitas aos arrendatários de suas terras mais ou menos às 3 horas da tarde, logo ao entrar, foi abordado pela Sra. Reynolds que estava muito aflita.

- Sr. Darcy, a Sra. Elizabeth saiu logo após o café da manhã para seu passeio matinal e até agora não retornou... Já mandei alguns empregados procurarem por ela nos arredores do parque e bosques, onde ela costuma fazer seus passeios, mas não a encontraram, estou muito preocupada, creio que tenha acontecido algo com ela, pois ela sempre retorna antes do almoço.

- Sra. Reynolds será que minha mulher não resolveu fugir para Londres novamente? - Darcy não conseguia esconder a irritação na pergunta que fez a governanta.

- Não, senhor. Ela falou comigo antes de sair, combinamos o menu do jantar, ela estava vestida para seu passeio matinal, não levava bagagem alguma.

Darcy suspirou profundamente e saindo em direção aos estábulos, disse:

- Vou reunir alguns homens para fazermos uma busca pelos arredores, a pé ela não pode ter ido muito longe. Fique tranquila, Sra. Reynolds que nós a encontraremos.

Darcy organizou a busca de forma que toda a área ao redor de Pemberley fosse vasculhada, começava a anoitecer quando alguns de seus homens encontraram Elizabeth, no mesmo local onde caíra. Imediatamente Darcy foi avisado e correu ao local onde a esposa fora encontrada, pois ele estava procurando pela esposa em outra área.

Ao ver Elizabeth caída ao chão, o vestido rasgado e sujo de terra, o pé inchado e enfaixado, um galo enorme no lado direito da testa, Darcy pensou que nunca a visão de sua mulher lhe parecera mais linda, sentia um alívio e uma alegria tão grandes que não se conteve, esqueceu a frieza com que a vinha tratando, ajoelhou-se e segurando-a em seus braços beijou-lhe o rosto sujo de terra, murmurou baixinho em seu ouvido:

- Lizzy, que bom que nos a encontramos, eu estava desesperado sem saber o que poderia ter acontecido a você. Você vai ficar boa logo, meu amor. Pare de chorar, agora tudo vai ficar bem!
Darcy providenciou para que Elizabeth fosse levada numa maca improvisada até a estrada mais próxima e transportada num coche para Pemberley, pois seria impossível transportá-la sobre um cavalo, quando chegaram a casa, o médico de Lambton já a aguardava. Após examiná-la, o diagnóstico do médico foi um alívio para todos.

- A Sra. Darcy teve uma contusão no pé direito e na cabeça ao cair da pedra, felizmente não há nenhum osso quebrado, acredito que além de uma leve dor de cabeça e inchaço e dor no pé, não houve maiores danos. A sorte dela foi que caiu de uma altura pequena, se a queda fosse maior os danos poderiam ser sérios. Recomendei a ela repouso absoluto por uns 3 a 4 dias e já prescrevi a medicação que deverá tomar.

Deitada em sua cama, após a criada de quarto e a Sra. Reynolds terem cuidado de sua higiene. Elizabeth se sentia aliviada e feliz por tudo ter terminado bem, as horas que passara sozinha, sem saber se seria socorrida foram desesperadoras, mas agora tudo estava bem. Não conseguia parar de pensar em Fitzwilliam, no seu olhar cheio de amor quando a viu caída, como ele a abraçara e a beijara, apesar da presença dos homens que ajudaram na busca, ele a chamara novamente de "Lizzy" e "meu amor".

Enquanto devaneava perdida em seus pensamentos e emoções, a porta de comunicação de seu quarto com o de Darcy se abriu e ele entrou, aproximando-se da cama.

- Elizabeth espero que você esteja se sentindo melhor, felizmente nada mais grave lhe aconteceu. Não preciso lhe dizer o quanto você foi imprudente caminhando até aquele lugar remoto, aquele local é distante até mesmo a cavalo. Da próxima vez que quiser caminhar para tão longe me avise para que eu providencie alguém para acompanhá-la.

- Sinto muito, Fitzwilliam, a manhã estava tão bonita e nem me dei conta da distância. Sei que causei um transtorno enorme a todos, que deixaram de lado seus afazeres para me procurar. Diga a todos que peço desculpas.
- Está bem. Felizmente a encontramos e nada de muito grave lhe aconteceu. Agora que está medicada, quero que descanse para se recuperar logo. Tenha uma boa noite, Elizabeth.

Darcy fez uma reverência formal e saiu do quarto, voltara a ser novamente o marido polido, frio e formal, a dor que Elizabeth sentia na cabeça e no pé, não era nada comparada a dor que sentia no coração que parecia tinha se despedaçado com o tratamento que o marido voltara a lhe dispensar.

Capítulo 7

Duas vezes ao dia, pela manha e à noite, Darcy vinha ao quarto da esposa para perguntar sobre seu restabelecimento. Eram visitas curtas e ele a tratava com a fria cortesia que vinha dispensando desde que voltaram da malograda fuga de Elizabeth. Ela procurava no fundo dos olhos do marido uma pequena réstia do afeto que ele um dia dispensara a ela, mas encontrava apenas aquele olhar impenetrável de indiferença e frieza.

- O Doutor disse que amanhã poderei começar a andar um pouco, sem forçar muito a perna que já desinchou. Ele disse que estou praticamente boa.

- Fico feliz em saber que se recuperou em tão pouco tempo. Tenha uma boa noite, Elizabeth.

E Darcy se retirava pela porta de comunicação dos dois quartos, deixando Lizzy desolada com tal tratamento.

Elizabeth conseguira subir na pedra mais alta e admirava o vale abaixo, tudo parecia tão calmo, o sol brilhando e aquecendo seu corpo, a brisa suave em seu rosto. Hora de descer, cautelosamente, lembrando que já caíra uma vez, foi colocando um pé após o outro nos contornos das pedras, mas de repente sentiu o pé escorregar pois pisara em falso, estava suspensa no ar, as mãos não conseguiam se segurar em nada, com uma velocidade espantosa ela mergulhava num abismo sem fim, esperando apenas que seu corpo atingisse o chão, antecipando a dor que sentiria, a sensação de queda livre a fez gritar a plenos pulmões, pois sabia que não iria sobreviver da altura em que caíra.

- Elizabeth, acorde... acorde, Elizabeth...

Darcy segurava o corpo trêmulo da mulher, sacudindo-o levemente, tentando acordá-la do pesadelo em que estava mergulhada.

- Acorde, você está tendo um pesadelo.

Lizzy abriu os olhos a princípio desorientada e demorou alguns segundos para compreender que estava em seu quarto, em sua cama e que o marido tentava despertá-la de um pesadelo. Ele a segurava pelos braços, sacudindo-a levemente, chorando ela passou os braços em volta do pescoço, abraçando Darcy e soluçando com a cabeça enterrada em seu ombro. A proximidade dele a acalmava. Passado alguns minutos, Darcy tentou se desvencilhar dela, mas protestando, ela não se soltou do pescoço dele.

- Por favor, não vá embora... fique aqui comigo, Fitzwilliam. Estou tão assustada... fique aqui comigo...

- Elizabeth, você só teve um sonho ruim, um pesadelo... Vou lhe dar um pouco de água e você vai se acalmar e voltar a dormir.

- Por favor... fique comigo, eu não vou conseguir dormir novamente se ficar sozinha, vou ter a impressão que o pesadelo irá voltar.

Darcy hesitou por alguns minutos e por fim disse:

- Está bem, vou ficar até você pegar no sono novamente. Vamos, tire os braços em volta de meu pescoço para que eu possa pegar um copo de água para você.

- Não, eu não quero água, quero você perto de mim... só isso.

Darcy deitou ao lado da mulher que continuava a abraçá-lo firmemente, Elizabeth se aninhou nos braços do marido, sentindo os braços fortes dele em volta de seu corpo. A sensação de estar novamente nos braços do marido era tão boa que Elizabeth colou seu corpo macio ao de Darcy.

- Fitzwilliam sonhei que estava caindo de uma pedra enorme, eu caía... caía... parecia que o chão não chegava nunca e eu sabia que iria morrer quando chegasse no chão. Foi horrível!

- Elizabeth, agora acalme-se... foi apenas um pesadelo. Fique quietinha e tente dormir novamente...

Darcy estava tão perturbado com aquela proximidade que não conseguia ter um pensamento coerente. O calor e as curvas do corpo da mulher, seu perfume suave, a falta que sentira dela nestes 15 dias que estavam de volta a Pemberley, tudo conspirava para que seu corpo reagisse violentamente a estes estímulos. Elizabeth sentiu a evidência do estado de excitação do marido junto a seu ventre e uma alegria incontida tomou conta dela, toda aquela indiferença e frieza eram apenas uma fachada, o marido ainda sentia desejo por ela.

- Lizzy, por favor...volte a dormir.

- Eu vou dormir... só não me deixe... não quero estar sozinha se voltar a ter aquele pesadelo. - disse com um sorriso malicioso que o marido não viu porque rosto de Lizzy estava colado ao peito dele.

Por fim, Darcy desistiu de lutar contra o desejo que incendiava seu corpo, suas mãos começaram a acariciar os cabelos sedosos de Elizabeth, descendo pelas suas costas, abraçando-a com uma volúpia mesclada com desespero. Seus lábios traçavam uma trilha de fogo pelo rosto da mulher encontrando seus lábios, em beijos sedentos de desejo e paixão. Esquecidos de seus rancores, suas dúvidas e suas diferenças ambos procuraram através de beijos e carícias, saciar o desejo reprimido por tanto tempo. Quando seus corpos finalmente se uniram, seus sussuros e gemidos ecoaram pelos salões escuros e silenciosos na madrugada de Pemberley.


Capítulo 8

A luz pálida da aurora se infiltrava pelas frestas das grossas cortinas de veludo quando Elizabeth despertou sentindo frio em suas costas nuas, procurou pelo calor do corpo de Darcy, mas logo se deu conta que estava sozinha na larga cama de casal. A princípio pensou que a noite de amor fora apenas mais um sonho erótico, dos muitos que andava tendo ultimamente, mas a sua nudez, a marca da cabeça do marido no travesseiro ao lado e o cheiro dele nos lençois, ela sabia que não fora um sonho.

"Meu Deus, não consigo continuar vivendo assim! Éramos tão felizes, por que me deixei influenciar por aquela carta maldosa de Caroline Bingley. Como fui idiota, depois de tudo que ela fez com Jane, eu que sempre desconfiei das ações de Caroline, como fui cair tão facilmente nas armadilhas dela. Se eu tivesse questionado Fitzwilliam, logo que recebi a carta, sobre as alegações de traição, tudo poderia ter sido esclarecido e não teria havido tanto sofrimento, tanto desentendimento."

Sabendo que não conseguiria mais dormir, Elizabeth se vestiu sozinha rapidamente, sem se incomodar de chamar sua criada de quarto para que a ajudasse, queria encontrar o marido enquanto ele tomava o café da manhã e conversar com ele, enfim esclarecer todo o mal entendido que estava tornando a vida deles aquele inferno.

Quando chegou na pequena sala onde costumavam fazer a refeição matinal, Darcy já se encontrava lá.

- Bom dia, Fitzwilliam.

- Bom dia, Elizabeth. Como está o seu pé?

- Sinto ainda um pouco de dor ao caminhar, mas nada que incomode muito.

- Quero que você seja cuidadosa, não preciso dizer que não deve fazer suas caminhadas por algum tempo.

- Fitzwilliam... sobre a noite passada... Eu...

- Peço desculpas pelo que aconteceu ontem, eu perdi meu controle, pode estar certa que não voltará a acontecer. É contra meu código de honra forçar uma mulher a ter relações comigo contra o seu desejo.

- Fitzwilliam, você não me forçou a nada, tudo que aconteceu foi com meu consentimento. Depois de nossa conversa na casa de Charles... eu refleti... você está certo em dizer que é minha obrigação lhe dar um herdeiro.

- Se nossa relação ontem produziu este herdeiro, ficarei muito feliz. Caso contrário, tenho certeza que quando minha irmã Georgiana se casar, ela me dará este herdeiro.

- Fitzwilliam, ainda sobre aquela nossa conversa em Netherfield, eu gostaria de dizer que estava enganada quanto aos meus sentimentos em relação a você... eu te amo e nunca deixei de te amar. O que aconteceu é que...

- Não acha, Elizabeth, que seus sentimentos são muito volúveis? Quando nos casamos, você parecia tão apaixonada por mim, no espaço de um ano seu amor por mim acabou, você me disse que não suportava mais viver comigo e eis que agora parece que seus sentimentos mudaram novamente. Não sou o tipo de homem que serve de joguete nas mãos de uma mulher. Você me decepcionou muito, Elizabeth. Recuso-me a ouvir qualquer explicação àquilo que para mim está claro, nosso casamento foi em erro. Esta é a verdade. Vamos continuar juntos nesta casa para manter as aparências, pois não permitirei que um escândalo enlameie o nome de minha família. Agora, com licença, marquei com meu capataz visitar alguns arrendatários e já estou atrasado. Tenha um bom dia.

Darcy fez uma reverência com a cabeça e deixou a saleta rapidamente com o semblante carregado. Lizzy permanceu paralisada em sua cadeira por alguns minutos até sentir que grossas lágrimas lhe corriam pelas faces, lembrou das palavras de Fitzwilliam, quando ficara hospedada em Netherfield por ocasião da gripe de Jane, dizendo que não conseguia esquecer as ofensas que lhe faziam e que tinha um temperamento rancoroso, "Uma vez perdida a boa opinião que tenho de uma pessoa, está perdida para sempre."


Capítulo 9

Na semana seguinte, Darcy anunciou durante o jantar que iria para Londres no dia seguinte e lá ficaria uns 10 dias. Elizabeth sentiu que o ciúme a devorava por dentro, tinha vontade de discutir com o marido, dizer que sabia perfeitamente o que ele iria fazer em Londres, quem ele iria encontrar lá. Mas, permaneceu calada, engolindo pequenas porções do jantar que insistiam em parar na garganta e só desciam com um gole de vinho.

O tempo se arrastou para Lizzy durante a estada de Darcy em Londres, por mais que ela se esforçasse em se ocupar com suas leituras, bordados, exercícios ao piano, passeios pelo parque e a administração da casa, parecia que o dia custava a passar e ela ficava lutando para afastar de seus pensamentos a figura do marido e o que ele estaria fazendo na Capital. Quando faltavam uns 5 dias para o seu retorno, Darcy lhe enviou uma carta :

"... estarei voltando a Pemberley, acompanhado de alguns convidados, um grupo pequeno formado de 8 pessoas, todos antigos amigos da família que desejam aproveitar o bom tempo para caçar e pescar. Dentre seus conhecidos, minha irmã Georgiana e o Coronel Fitzwilliam farão parte deste grupo. Também escrevi para a Sra. Reynolds que irá providenciar tudo que for preciso para acomodar nossos convidados..."

Elizabeth acrescentou outro motivo ao seu nervosismo, receber hóspedes em Pemberley, era para ela um verdadeiro martírio, pois todos os convidados eram sempre pessoas do mesmo nível social de Darcy, muitas vezes eram nobres e ela se sentia muito insegura no seu papel de anfitriã.

Em Longbourn, quando havia hóspedes ou convidados, eram pessoas simples do mesmo nível social dos Bennet, portanto nem Elizabeth, nem suas irmãs tiveram oportunidade de aprender como receber pessoas de nível social elevado.

Em outras ocasiões quando tiveram hóspedes em Pemberley, a simples presença de Darcy ao seu lado lhe dera coragem, mas agora com o relacionamento estremecido, Lizzy não podia contar com o apoio dele, iria se sentir perdida no meio daquela gente cerimoniosa, cheia de pompa, rigorosos no cumprimento da etiqueta e que estariam atentos a qualquer deslize dela, pois todos sabiam que Darcy se casara com uma jovem de baixa linhagem.

Quando foi procurar a Sra. Reynolds, a fim de ver a lista de convidados outra surpresa a aguardava e sentiu seus joelhos fraquejarem ao ler os nomes de Lord e Lady Marson, Rebecca Morgan dentre outros que ela não conhecia.

- Sra. Reynolds, a senhora conhece estes convidados que virão?

- Sim, são todos velhos amigos da família, Lord e Lady Marson costumam vir todos os anos a Pemberley, eram muito amigos dos pais do Sr. Darcy e a Sra. Rebecca Morgan é filha deles vem aqui desde menina, só deixou de vir durante o período em que esteve casada. Ela é tão encantadora, tão linda! Ela e o Sr. Darcy são muito amigos.

O comentário da Sra. Reynolds trouxe mais inquietação ao espírito atormentado de Lizzy.

"Meu Deus, agora terei que receber esta mulher em minha própria casa! Fitzwilliam não pode ser tão cínico a ponto de trazer uma amante para dentro de sua própria casa, acompanhada de seus pais! Parece que a cada dia os meus problemas aumentam, mas pensando bem, vai ser bom ver os dois juntos, vou ficar bem atenta e se houver algo entre eles, tenho certeza que descobrirei."


Capítulo 10


Os convidados chegaram em pequenos grupos, os primeiros foram o Coronel Fitzwilliam e Georgiana acompanhados por Darcy. Logo em seguida chegou um casal de meia idade, Lord e Lady Effingham. Os últimos foram Lord e Lady Marson, com os filhos Anthony e Rebecca Morgan.

Darcy e Elizabeth receberam os convidados na porta principal de Pemberley, todos foram muito polidos e formais ao saudarem Elizabeth. A primeira impressão que ela teve de Rebecca Morgan foi de absoluta surpresa, nunca em sua vida, vira uma mulher tão linda, nem mesmo sua irmã Jane que era considerada a beldade de Hertfordshire, poderia se comparar a ela em beleza e elegância. Um rosto de feições delicadas e pele perfeita, loira de olhos azuis intensos, mesmo acabando de chegar de uma viagem em que estivera sentada na carruagem durante horas, estava impecável e linda.

Lizzy sentiu um abatimento muito grande.

“Se existe algo entre esta mulher e Darcy como vou poder competir com ela.Tenho que reconhecer que ela é simplesmente deslumbrante. Ela tem tudo, beleza, charme, educação e riqueza."

- Estava ansiosa em conhecê-la, Sra. Darcy, Fitzwilliam falou-me tanto da senhora que parece que já a conheço. - Foi a saudação em tom amistoso de Rebecca Morgan.

- É um prazer recebê-la em Pemberley, Sra. Morgan.

Intrigada com as palavras de Rebecca Morgan, Lizzy ficou imaginando o que o marido teria falado dela. Ela observou atentamente o comportamento de Darcy em relação à Rebecca, ele foi cortes e afetuoso na saudação à amiga de infância, mas não notou nada nas atitudes dele que pudessem levantar suspeitas.

Naquela noite em Pemberley, o jantar foi servido na imensa sala de jantar, iluminada por dezena de velas, os criados em uniforme de gala, os cristais, as porcelanas e baixelas de prata completando o cenário de fausto e riqueza. A atmosfera foi de absoluta cordialidade entre os convidados, tanto que Elizabeth sentiu-se quase à vontade, não fosse os olhos frios de Darcy quando pousavam nela e a presença intrigante de Rebecca Morgan.

Como era costume nos jantares da aristocracia findo o jantar os homens permaneceram na sala de jantar para tomarem o vinho do Porto, fumarem seus charutos e conversarem sobre política.
As mulheres iam para a sala de visitas para tomarem chá e se entreterem com assuntos femininos.

Logo que chegaram a sala, Rebecca sentou-se ao lado de Lizzy e começou a falar.

- Mrs. Darcy, fiquei muito feliz quando Fitzwilliam nos convidou para virmos conhecê-la, como deve saber eu e ele somos amigos desde crianças. Quero muito bem a ele e gostaria que nos tornássemos amigas também.

A maneira amigável e sem nenhuma afetação de Rebecca Morgan surpreenderam Elizabeth, ela tinha um olhar direto e seu sorriso era franco e amável pareciam sinceros.

- Fitzwilliam me contou que a senhora caminha todas as manhãs. Gostaria de acompanhá-la em seus passeios, se não se importar, pois também adoro caminhar.

- Claro, terei prazer em sua companhia, Sra. Morgan.

- Gostaria que deixássemos a formalidade de lado e me chamasse de Rebecca. Posso chamá-la de Elizabeth?

- Sim, com certeza.

Lizzy estava muito perturbada, sem saber que atitude tomar em relação à Rebecca, pois não confiava na sinceridade da jovem, mas como anfitriã tinha que tratá-la com toda a cordialidade.
Logo em seguida, os homens se juntaram ao grupo de mulheres e a noite prosseguiu com Georgiana tocando piano, mas todos se retiraram cedo para seus aposentados alegando
cansaço da viagem.

Na manhã seguinte, conforme haviam combinado Lizzy teve a companhia de Rebecca em seu passeio matinal pelo parque de Pemberley.

- Em nenhuma das propriedades que já visitei, existe um parque tão maravilhoso como o de Pemberley, a natureza e os jardineiros fizerem um trabalho magnifíco aqui. Fitzwilliam deve ter contado a você que eu e minha família vinhamos todos os anos passar uma temporada aqui, durante o verão. Minha mãe e a falecida Sra. Darcy eram muito amigas e é por isso que venho para cá desde quando era um bebê.

Não resistindo mais a curiosidade, Elizabeth arriscou uma pergunta que sabia ser imprópria e indiscreta.

- ... você e o Fitzwilliam tiveram algum compromisso no passado?

- Compromisso? Você quer dizer de casamento? Oh! Não, nunca, sempre fomos apenas amigos, ele é como um irmão para mim. Lady Catherine dizia que ela e a irmã queriam que Fitzwilliam e Anne um dia se casassem, mas nunca notei a menor inclinação dele por Anne. Acho que não seria um casamento feliz... e isto é a pior coisa que pode acontecer a alguém, ser infeliz no casamento.

Caminharam em silêncio, ouvindo apenas o cantar dos passarinhos e o zunido das abelhas, Rebecca parecia ter mergulhado num silêncio melancólico.

- Eu também não tive um casamento feliz e sei que este é um fardo muito difícil para qualquer pessoa carregar... Fiquei casada por 2 anos, Stephen, meu marido era muito ciumento, tornando nossa vida um verdadeiro inferno. Ele me confinou em nossa propriedade no campo e eu só podia sair com ele, me fez romper contato com todos os meus amigos, não tinha nenhuma vida social, ele me proibiu até de visitar meus pais. Só podia visitá-los no Natal, assim mesmo não podia ter um momento de privacidade com eles, Stephen estava sempre por perto vigiando para que eu não revelasse a eles como era minha vida.

Os belos olhos azuis de Rebecca ficaram marejados de lágrimas, ela os enxugou delicadamente com um lenço e continuou:

- Sei que deve estar achando estranho confidenciar a você detalhes tão íntimos de meu casamento quando acabamos de nos conhecer, mas acredite Elizabeth simpatizei com você antes mesmo de conhecê-la, por tudo que Fitzwilliam me contou sobre você, como se conheceram e como ele se apaixonou por você. Ele é uma pessoa muito especial, atrás daquela aparência reservada existe um grande homem e você é uma mulher afortunada por ter conquistado seu coração.

Elizabeth procurou ocultar a emoção que sentiu diante das palavras de Rebecca, agora estava certa que cometera o maior engano de sua vida e teria que consertar seu erro de qualquer maneira, só não sabia como fazê-lo.


Capítulo 11

Elizabeth voltou de seu passeio e foi direto ao seu quarto, precisava ficar sozinha para colocar seus pensamentos tumultuados em ordem. Depois daquela confissão emocionada de Rebecca não havia como não acreditar na sinceridade dela. Os abusos que aquela jovem havia sofrido nas mãos daquele marido, deixaram Elizabeth horrorizada e penalizada.

Agora que tinha certeza que a carta de Caroline Bingley era uma calúnia, Elizabeth decidiu que precisava conversar com o marido com urgência, queria fazer as pazes com ele, não suportava mais viver brigada com ele, sentia falta do relacionamento afetuoso que tinham, sentia falta dele fisica e emocionalmente . Mas o fato da casa estar cheia de hóspedes dificultava que eles tivessem um tempo só para eles poderem conversar calmamente, sem interrupções. E ela também tinha medo que ele não quisesse escutá-la, como da última vez que tentara conversar com ele. Ela resolveu que escreveria uma carta explicando tudo o que acontecera, ele teria que lê-la.

"Meu amado esposo:

Tenho vivido em nestes últimos tempos a pior fase de minha vida, nem mesmo quando Lydia fugiu com o Sr. Wickham, minha angústia e tristeza foi maior. Aprendi nos primeiros meses de nosso casamento o que é uma união feliz e não aceito viver nas condições que estamos vivendo, esta farsa de casamento não combina conosco.

Vou ser totalmente sincera, pois foi a falta desta sinceridade que nos levou a situação que estamos vivendo agora.

Recebi há uns dois meses atrás uma carta de Caroline Bingley, a qual junto a esta para que você mesma a leia.

Esta carta levantou em mim a suspeita de que suas viagens tão prolongadas a Londres tinham outra finalidade, além de cuidar de seus negócios e de Georgiana.

Os ciúmes me levaram a procurar evidências de sua traição, este sentimento ao mesmo tempo que cega a pessoa, faz com que ela veja até o que não existe. Acabei por encontrar uma carta escrita por Rebecca Morgan em seus pertences, os termos carinhosos usados na carta, vieram apenas confirmar minhas suspeitas. Aqui peço desculpas por haver invadido sua privacidade de uma forma vil. Ouvi também o Coronel Fitzwilliam dizendo a você que Rebecca estava encantada com a companhia de vocês. Todas estas evidências, numa mente perturbada pelo ciúme, me fizeram ter certeza de que você estava me traindo. O desespero me fez partir de Pemberley e procurar abrigo na casa dos Bingley.

Reconheço que errei e peço desculpas do fundo de meu coração por todas as minhas ações que agora vejo foram desvairadas e desastradas.

O amor deve se basear em confiança mútua e eu não confiei em você. Agora tenho certeza que se eu tivesse mostrado a carta de Caroline a você, logo que a recebi, todo este sofrimento teria sido evitado.

Você me acusou de ser volúvel, mas creia-me meus sentimentos por você nunca foram volúveis, sempre o amei, em momento algum deixei de amá-lo e posso dizer com certeza que sempre o amarei.

Peço a você uma nova oportunidade, um relacionamento baseado não só no amor, mas na confiança mútua. Por último quero lhe dizer que se você decidir que seja tarde para me perdoar, que você perdeu a boa opinião que tinha de mim e que ela está perdida para sempre, se para você prevalece sua opinião de que nosso casamento foi um erro, vamos continuar a viver juntos nessa casa para manter as aparências, como você mesmo propôs, cumprirei todas as obrigações que me cabem como a senhora de Pemberley e você não terá nenhum motivo de queixas quanto ao meu comportamento.

Sua sempre.

Elizabeth

Elizabeth deixou a carta sobre a cômoda do quarto do marido e fez uma pequena prece para que Darcy lesse a carta e aceitasse seu pedido de desculpas. Ele havia saído cedo com o grupo de convidados homens para visitarem uma propriedade distante, só voltariam no final da tarde para o jantar.

Coube a Elizabeth entreter as convidadas durante o dia, mas ela não teve problema algum, pois todas pareciam apreciar a companhia uma das outras e mostravam claramente simpatizar com ela, mas o dia foi longo para Lizzy que aguardava ansiosa a volta de Darcy e a reação dele à carta. Mas sabia que só teria uma resposta dele, tarde da noite, depois que todos os convidados tivessem se recolhido, isto na melhor das hipóteses, pois ele poderia só procurá-la para conversar no dia seguinte.

Elizabeth estava se preparando para o jantar auxiliada pela sua criada de quarto, Emily, que arrumava o seu cabelo, quando ouviu uma batida firme na porta de ligação de seu quarto com o do marido, seu coração disparou, só poderia ser ele.

- Entre.

- Preciso conversar com você agora. - com um gesto Elizabeth dispensou a criada que fazendo uma breve reverência deixou o quarto.

- Por que você não me mostrou esta carta infame de Caroline Bingley assim que a recebeu?

- Eu... andava muito aborrecida porque você havia passado 20 dias daquele mês em Londres, deixando-me sozinha aqui em Pemberley, eu estava me sentindo negligenciada por você, estava insegura... Tinha ouvido duas hóspedes nossas dizendo que todos os homens ricos e de projeção social mantinham amantes em Londres, que isto era normal e socialmente aceito.

- E você preferiu acreditar em Caroline e nestas matronas linguarudas do que vir a mim e me questionar diretamente o que estava acontecendo. Fiquei 20 dias em Londres naquela ocasião porque estava com sérios problemas em meus negócios, que necessitavam de minha assistência constante, pensei até em pedir que você viesse a Londres para ficar comigo, mas parecia que tudo se resolveria logo, o que não aconteceu e minha permanência foi se estendendo mais que o esperado. Nunca tive nada com Rebecca Morgan, é uma amiga querida, conhecemo-nos desde crianças, se eu a amasse teria me casado com ela antes de conhecer você, jamais a teria como amante. Ela é uma mulher que merece todo meu respeito e consideração.

- Rebecca conversou comigo esta manhã, me contou a triste estória de seu casamento e foi esta estória que abriu meus olhos para a loucura que eu estava cometendo, nosso casamento era tão feliz e eu fui estragar tudo, com meus ciúmes, minhas inseguranças, minha falta de confiança em você. Por favor, Fitzwilliam dê-me uma outra oportunidade...prometo que você não se arrependerá.

Elizabeth lutava para não chorar, não queria as lágrimas fosse uma forma de chantagem para que o marido a perdoasse e ficasse com ela.

- Você sabe perfeitamente que não sei negar nada a você, Lizzy. Oportunidade concedida, mas com uma condição, qualquer dúvida que haja daqui para frente em nosso relacionamento vamos esclarecer imediatamente.

Lizzy atirou-se nos braços de Fitzwilliam deixando as lágrimas, que agora eram de pura alegria, rolarem por seu rosto.

- Oh! Meu amor, obrigada...Estou tão feliz...

Ela procurou os lábios de Darcy, a princípio num beijo meio tímido e desajeitado, mas imediatamente ele aprofundou o beijo, numa carícia quente e envolvente, suas línguas iniciaram um duelo lento a princípio, mas que logo se tornou frenético. As mãos de Darcy percorriam o corpo de Lizzy numa carícia ousada e sensual. A boca dele foi desenhando uma trilha de fogo pelo pescoço de Lizzy até o colo, até ele abaixar a alça de seu vestido, desnudando-lhe os seios, a boca quente de Darcy começou a sugar os mamilos rosados de Lizzy, que gemia em êxtase.

- O jantar... nossos convidados... - ela conseguiu balbuciar perdida nas sensações deliciosas que lhe provocavam as carícias de Darcy. Mas, ele parecia não ter ouvido as palavras da mulher, carregou-a para a cama, onde ambos caíram envolvidos nos braços um do outro. Imediatamente ele levantou-lhe o vestido e a anágua, livrando-a rapidamente de sua roupa íntima. Logo sentiu o membro rijo do marido penetrando-a com uma urgência mesclada de desespero, a princípio sentiu um certo desconforto, mas logo seu corpo acomodou-se a esta invasão bem-vinda e um prazer intenso tomou conta dela, tinha a sensação de haver voltado para casa.

- Desculpe, meu amor se fui meio brusco... - Ela calou Darcy procurando os lábios dele enquanto iniciavam aquele ritmo que sacudia seus corpos unidos em perfeita harmonia. Ambos estavam tão carentes um do outro que o alívio veio quase que de imediato.

Após alguns minutos em que ambos se refaziam do esforço exercido, Lizzy exclamou ofegante:

- Fitzwilliam, estamos atrasados, nossos convidados devem estar esperando por nós. Meu Deus, o que eles vão pensar de nós? Que vergonha!

- Lizzy, acalme-se. Nós somos os anfitriões, meia hora de atraso não irá matar ninguém de fome.

- Lady Catherine cansou de me dizer que a pontualidade no horário das refeições é regra básica de uma boa anfitriã.

- Ora, desde quando você começou a dar ouvidos aos conselhos de minha tia? Hoje a anfitriã teve um compromisso inadiável com o anfitrião e ponto final. Eu vou na frente para acalmar seus pobres nervos, pois você está me lembrando minha cara sogra. Digo a eles que houve um imprevisto e que você se atrasou. Todos serão discretos e não perguntarão que imprevisto é este.
Elizabeth se arrumou sozinha, sem coragem de chamar a criada de quarto de volta para auxiliá-la, pois embora Emily fosse a discrição em pessoa, ela saberia o que passara no quarto da patroa naquele tempo em que o Sr. Darcy estivera lá.

Todos os convidados conversavam animadamente, quando Elizabeth chegou na sala de visitas, não pareciam preocupados com o atraso do jantar, agiram como se nada houvesse acontecido. Apenas estranharam, sem nada comentar, o bom humor do anfitrião que era todo sorrisos, após ter estado o dia todo calado e sombrio.

Elizabeth se sentia desconfortável, tinha a impressão de que os convidados desconfiavam das atividades do casal anfitrião antes do jantar, evitava olhar para o marido e quando acontecia do olhar deles se encontrar, corava violentamente, pois havia sempre um brilho malicioso no olhar de Darcy.


Capítulo 12

A reconciliação de Lizzy com Darcy levou-os a viverem uma segunda lua de mel, só tinham olhos um para o outro, estavam tão apaixonados que mesmo a presença dos hóspedes parecia não atrapalhar o enlêvo de um pelo outro. Quando finalmente os hóspedes partiram, só ficou com eles Georgiana que convencida por Lizzy resolveu passar uma temporada longa em Pemberley, para ver se acostumava morar no campo com eles.

Fitzwilliam Darcy sempre se considerou um homem equilibrado, pouco dado a arroubos de paixão ou ódio, todo tipo de emoções violentas, que ele considerava indignas de um verdadeiro cavalheiro, enfim como bom inglês que era, considerava a fleugma britânica um paradigma para sua vida. Mas, ele não conseguia esquecer a carta maldosa de Caroline Bingley e queria que ela pagasse pela maldade que fizera, afinal aquela carta fizera com que ele e Lizzy vivessem dois meses infernais e poderia ter acabado com o casamento deles.

Primeiro, ele considerou escrever uma carta para Caroline, chegou até a escrevê-la, mas ficou insatisfeito com ela, o que ele queria realmente dizer tinha que ser dito pessoalmente, mas ele temia que num encontro pessoal o ódio que sentia por ela, levasse a melhor e ele se esquecesse que era um cavalheiro.

Um dia comentando com Lizzy que pretendia conversar pessoalmente com Caroline sobre a carta, ela disse num tom conciliador:

- Fitzwilliam, vamos esquecer Caroline e o que ela fez. Vamos ignorá-la, não a convidamos mais para vir a Pemberley, creia-me nosso desprezo será a melhor vingança. Estamos tão felizes agora que me parece bobagem ficar remoendo o passado.

- Discordo de você, Lizzy. Esta mulher precisa saber que não se brinca com os sentimentos dos outros, não se levanta falso testemunho, não se denigre a reputação dos outros e tudo continua bem. Estou indignado e enquanto eu não conversar com ela, não terei sossego.

- Mas é uma situação delicada, não se esqueça que ela é irmã de Charles.

- Sinto muito, ela não lembrou disso quando armou esta perfídia.

Algum tempo depois, Darcy recebeu uma carta de Charles Bingley dizendo que estava chegando em Pemberley dentro de 3 dias.

- Ele diz aqui na carta que quer que eu o ajude a procurar uma propriedade em Derbyshire ou nos arredores, parece que se cansou de Netherfield. Sinto dizer, mas ele se queixou da interferência de sua mãe na vida dele e de Jane.

- Eu compreendo perfeitamente, conheço muito bem minha mãe, sei o quanto ela pode se tornar inconveniente. Será maravilhoso ter Charles, Jane e Joshua mais perto de nós.

Bingley veio sozinho a Pemberley, pois Jane achava o filho era ainda muito pequeno para fazer viagens longas. Após alguns dias, ele e Darcy encontraram uma propriedade nas proximidades de Derbyshire a 50 km de Pemberley, Lizzy estava eufórica, não via a hora que eles se mudassem para lá.

- Lizzy, vou a Londres com Charles, conversei com ele sobre a carta de Caroline e ele concordou comigo que devo conversar pessoalmente com ela, inclusive ele se propôs estar presente nesta conversa e eu concordei porque confesso tenho medo da violência de minha reação.

- Fitzwilliam como você é teimoso, não vou falar mais nada porque sei que será inútil. Você voltará logo?

- Sim, ficarei apenas uns 3 dias lá. Não precisar ficar com ciúmes, pois sou um marido apaixonado que tem olhos apenas para minha Lizzy. - disse ele provocando-a.

Quando Charles e Darcy chegaram à casa dos Bingley em Londres, Caroline recebeu-os com toda amabilidade, embora suas esperanças em relação de Darcy estivessem mortas, ela continuava a sentir uma forte atração pelo belo Fitzwilliam Darcy.

- Sr. Darcy, mas que prazer receber sua visita.

- Não sei se sentirá muito prazer quando souber o motivo dela.

- O senhor me assusta falando desta maneira.

- Vamos direto ao assunto, trata-se desta carta que a senhora deve estar lembrada de ter enviado a minha esposa. - Darcy estendeu para Caroline a carta aberta. Ela tornou-se branca como cera e incapaz de articular uma palavra olhou para Darcy parecendo em estado de choque.

- A senhora tem alguma idéia do mal que esta carta causou? Ou era realmente sua intenção destruir um casamento harmonioso por pura maldade? Saiba a senhora que quase conseguiu seu intento, mas quis a providência que sua calúnia fosse descoberta e tudo fosse resolvido.

- Sr. Darcy, acontece que os rumores naquela época, de que o senhor pudesse estar tendo um "caso" com Rebecca Morgan eram muito fortes na sociedade e agi na melhor das boas intenções alertando a Sra. Elizabeth.

- A senhora que se diz tão minha amiga e de minha esposa deveria ser a primeira a rechaçar estes rumores maldosos, inventados por gente maldosa, como mentirosos; entretanto o que fez a senhora, encarregou-se de transmiti-los a minha esposa insinuando de que eles eram verdadeiros. Ao mesmo tempo, a senhora denegriu a reputação de uma amiga muito querida que é a senhora Morgan.

- Sr. Darcy, peço que me perdoe, não pensei que fosse causar tanto mal.

- Não a perdôo, pois por sua causa, eu e Elizabeth passamos dois meses de sofrimento e nosso casamento foi quase destruído.

Charles Bingley que até aquele momento estivera calado ouvindo atentamente a conversa do amigo e da irmã, achou que era hora de fazer um aparte para acalmar Darcy.

- Darcy, apesar dos problemas que a carta de Caroline causou, tudo acabou se acertando e você e Elizabeth estão bem novamente. Caroline reconhece que errou e certamente nunca mais agirá de forma tão inconseqüente. Portanto, não há razão para chegar ao extremo de vocês cortarem relações com minha irmã.

- Bingley, tenho certeza de que você não seria tão condescendente com sua irmã, se o que aconteceu comigo e Lizzy, houvesse acontecido com você e Jane. Srta. Bingley lamento que nossas relações terminem de forma tão pouco amistosa, a senhora há de reconhecer que não posso aceitar em minhas relações uma pessoa que causou tanto mal a mim e a minha esposa.
Darcy inclinou levemente a cabeça a guisa de saudação e deixou a casa, se não totalmente satisfeito pelo menos aliviado de saber que Caroline Bingley nunca mais iria interferir em sua vida e na de Lizzy.


Capítulo 13

Desde seu casamento Elizabeth aguardava com um certo grau de ansiedade a gravidez. Embora fosse menos maternal que Jane, ela queria muito ter filhos. Seus filhos com Fitzwilliam! Imaginava com ternura como seriam lindos, todos parecidos com o pai, como seria carregar primeiro no ventre e depois em seus braços, o fruto do amor deles, como seria maravilhoso vê-los correndo pelos corredores e pelo parque e bosques de Pemberley. A cada mês quando seu fluxo menstrual chegava, a esperança de gravidez ficava adiada para o mês seguinte. Mas, ao receber uma carta de Jane, contando que estava grávida novamente, Lizzy começou a ficar preocupada, o que poderia haver de errado com ela?

- Fitzwilliam, por que será que não consigo ficar grávida? Será que sou estéril? Queria tanto te dar um filho, deve ser tão emocionante gerar no ventre uma nova vida, vê-lo crescer dia a dia...

Percebendo que Lizzy estava entristecendo, ele retrucou:

- Vou chamar o Dr. Foster para examiná-la, acho que não há nada errado com você, simplesmente ainda não chegou a sua vez. Enquanto isto meu amor, vamos seguir o conselho de minha dia Lady Catherine e praticar... pois, só praticando conseguirei engravidar minha mulher. - Lizzy aceitou, como sempre, com prazer a "pratica" de Darcy, às vezes não acreditava que aquele marido que zombava com bom humor de Lady Catherine era o mesmo homem sério, antipático e orgulhoso que conhecera naquele primeiro baile em Meryton.

O Dr. Foster examinou Elizabeth cuidadosamente, questionando detalhes de sua saúde e no final concluiu que ela perfeitamente saudável, que poderia gerar quantos pequenos Darcys quisesse. Mas apesar de praticarem exaustivamente todas as noites, Lizzy não engravidava.
Tudo parecia que estava bem em Pemberley, mas o olhar arguto de Darcy percebia uma melancolia no olhar de Lizzy, que não combinava com ela e que ela procurava disfarçar na presença dele. Ele procurava alegrá-la de todas as formas que podia, quando podia saía com ela para longos passeios pelos campos de Derbyshire, presenteava-a com pequenos mimos, procurava sempre estar de bom humor e fazer brincadeiras, mas ele percebia que no fundo sua Lizzy andava triste, até que um dia ela disse-lhe de sopetão.

- Fitzwilliam e se apesar do que o Dr. Foster disse, eu não puder lhe dar filhos?

- Meu amor se nós não tivermos filhos. O filho de Georgiana será o herdeiro de Pemberley. E eu não quero que você pense mais nesse assunto. Se Deus nos abençoar com filhos será maravilhoso, mas se não, vamos continuar a nos amar e envelhecermos juntos. Não quero mais ver esta tristeza e esta ansiedade em seus olhos, Lizzy.

Numa tarde quente de agosto, Lizzy estava em sua sala preferida bordando quando um criado trouxe-lhe uma carta, ela abriu-a intrigada. Quem poderia ser?

"Querida Lizzy:

Sei que você vai estranhar esta carta. Estou aqui em Lambton, mas não quero ir até Pemberley porque Wickham está comigo e como você sabe ele não pode por os pés aí.

Minha irmã estou precisando de um favor especial de você, peço que venha sem demora até a hospedaria de Lambton. Não se trata apenas de mais um empréstimo de dinheiro, mas de outro grande favor.
Estou aguardando ansiosa.

Sua irmã que a ama.

Lydia."

Ela pediu ao criado que mandasse preparar um coche e avisou a Sra. Reynolds que quando Darcy voltasse de seus afazeres o avisasse que ela fora encontrar sua irmã Lydia em Lambton.

Logo que chegou a hospedaria, Lizzy foi recebida pelo dono da hospedaria e sua esposa, ambos muito agitados.

- Sra. Darcy, sua irmã e o marido partiram na diligência das 11horas e deixaram a filha.

- Deixaram a filha? Não estou entendendo?

- Quando a criada subiu para limpar o quarto encontrou a menina dormindo no berço e a carta que enviei para a senhora sobre a cômoda. Não sabemos de mais nada.

- Onde está a menina?

- No mesmo quarto onde foi encontrada, venha vou levá-la lá.

A agitação na hospedaria era grande com os proprietários, hóspedes e criados todos falando ao mesmo tempo. Lizzy encontrou sua sobrinha Meg, a filha de Lydia e Wickham acordada no berço em que dormira. A menina era linda, uma perfeita boneca, os cabelos loiros e olhos azuis profundos. Lizzy a tomou nos braços imediatamente e uma segunda carta caiu no chão em meio ao cobertor em que a criança estava enrolada. Lizzy depositou a sobrinha de volta no berço e leu a carta.

"Querida Lizzy:

Eu e Wickham queremos lhe pedir um favor especial, queríamos que você cuidasse de Meg por um período, alguns meses, pois Wickham recebeu um convite do capitão March para juntar-se ao regimento estacionado em Bath, naturalmente ele não poderia recusar um convite destes, pois o salário é muito bom. Ele queria partir sozinho, mas como ouvi dizer que a vida social em Bath é muito intensa, bailes e mais bailes, resolvi acompanhá-lo, pois tenho medo de perder meu marido se deixá-lo ir sozinho.

Acontece que não quero levar a Meg comigo, pois ela estranha muito viagens, mudança de cidade, a alimentação, a pobrezinha sempre adoece. Aí, lembrei-me de você, que é tão afeiçoada a ela e se preocupa tanto com ela, você poderia ficar com ela durante o período em que estivermos lá, serão apenas uns 4 meses..

Sensata como é, sei que você se recusaria aceitar uma responsabilidade dessas se eu lhe pedisse pessoalmente, e certamente, meu estimado cunhado também jamais concordaria. Por isso, resolvemos que a melhor forma para que vocês aceitassem essa incumbência seria deixar Meg aqui na hospedaria e você vir buscá-la, quando já estivessemos a muitas milhas longe de Lambton.

Meg é a criança mais doce que existe, ela só chora quando está com fome ou muito suja. Deixei todas as roupas dela e seus brinquedos no pequeno baú ao lado do berço. Tenho certeza que você cuidará bem dela por isso deixo-a em suas mãos despreocupada.

Sua irmã que a ama.

Lydia"

Elizabeth estava tão atônita que precisou ler a carta duas vezes para entender o que Lydia e Wickham fizeram. Eram mais ou menos 4 horas da tarde, a esta altura a diligência estava a 5 horas de viagem, seria impossível alcançá-la. Lizzy voltou a tomar nos braços a menina que já apresentava sinais de agitação, ela devia estar faminta e molhada.

- Por favor, coloquem o baú dela em minha carruagem, vou levá-la para Pemberley.

Agradecendo aos donos da hospedaria, que mostravam claros sinais de alívio, Lizzy voltou para casa segurando a pequena sobrinha no colo.


Capítulo 14

A pequena Meg continuava a mostrar sinais de agitação dentro da carruagem, Lizzy procurava acalmá-la falando com ela de forma carinhosa.

- Meg, querida, logo vamos chegar em casa e você vai comer, tomar banho. Fique calminha, que a tia Lizzy vai cuidar de você.

Elizabeth ainda não estava conseguindo raciocinar coerentemente, nunca lhe ocorrera que Lydia pudesse ser tão irresponsável, tão inconseqüente. Ela já dera prova deste comportamento ao fugir com Wickham de Brighton, mas todos pensavam que ela havia amadurecido após o casamento, estava com quase 17 anos, era esposa e mãe, não podia continuar se comportando de forma tão leviana. De repente Elizabeth se lembrou de Darcy, certamente ele iria reprovar a atitude irresponsável de Lydia e Wickham e era quase certo que não aceitasse a permanência da filha de Wickham em Pemberley.

A fim de evitar encontrar com o marido, tão logo chegasse a casa, Lizzy pediu ao cocheiro que parasse a carruagem nos fundos da casa e desceu com a sobrinha nos braços, entrando pela cozinha. Pediu a uma criada que chamasse a Sra. Reynolds.

- Sra. Reynolds preciso que a senhora prepare um quarto para minha sobrinha e providencie para que uma das criadas que tenha boa qualificação para cuidar de criança, seja a babá dela. O Sr. Darcy já chegou?

- Ainda não, senhora. Vou providenciar o que a senhora me pediu.

A eficiente Sra. Reynolds providenciou sem demora um quarto para a pequena hóspede e escalou uma das criadas que tinha experiência em cuidar de crianças, para ser a babá da pequena Meg.
Em pouco tempo, a menina estava de banho tomado, mas quando Lizzy abriu o pequeno baú contendo os pertences da criança ficou penalizada ao ver a pequena quantidade de roupas de baixa qualidade e a maioria puída pelo excesso de uso. Os brinquedos consistiam de algumas bugigangas baratas, um pequeno chocalho, uma boneca de pano que a própria Lizzy havia presenteado há um tempo.

Lizzy ficou revoltada ao ver que a irmã havia negligenciado daquela forma a própria filha.

- Amanhã irei até Lambton e comprarei algumas roupas lindas e brinquedos para você, Meg.

- Sra. Darcy, o Sr. Darcy acaba de chegar, ele se encontra na biblioteca.

Lizzy havia pedido que a avisassem assim que o marido chegasse, queria ser ela a dar a notícia da chegada da sobrinha e contar a ele como tudo acontecera. Ela pressentia que não seria fácil convencer Darcy a aceitar a sobrinha e os atos irresponsáveis de Lydia e Wickham.

- Fitzwilliam, como foi o seu dia? Correu tudo bem?

- Sim, tudo foi bem. E você, meu amor, como passou o dia?

- Bem, mas tenho algo para lhe contar... que talvez você não goste...

- O que minha linda esposa pode ter para me contar que eu não goste? - disse ele sorrindo, abraçando-a e beijando-a com um sorriso apaixonado. Lizzy pensou que estava com sorte, pois Darcy estava de bom humor.

Ela contou em detalhes tudo o que acontecera e ao ver que o semblante do marido ia ficando sombrio, arrematou:

- Reconheço que Lydia e Wickham foram muito irresponsáveis, mas a pobrezinha da Meg não tem culpa dos pais que têm.

- Dizer que eles foram irresponsáveis, é muito pouco. Não há qualificação para o ato que praticaram, abandonando a própria filha. Lizzy, sinto muito, reconheço que a criança não tem culpa de nada, mas não vou aceitá-la aqui em Pemberley.

Era o que Lizzy mais temia.

- Mas Fitzwilliam, nós não podemos abandoná-la, afinal ela é minha legítima sobrinha...

- Não vamos abandoná-la, afinal somos pessoas responsáveis. Amanhã mesmo providenciarei para que ela seja levada em segurança para Bath e entregue para os pais.

- Não... por favor, isto não. - protestou Lizzy com veemência - Lydia não está cuidando bem dela, se você visse como ela está magrinha, cheia de assaduras e as roupinhas dela estão gastas e algumas tão pequenas que nem cabem nela. Não quero mandá-la de volta para Lydia.

- Então, vamos mandá-la para Longbourn para que sua mãe cuide dela. Lizzy, eu não quero esta criança aqui.

- Fitzwilliam, a menina não tem culpa de ser filha de Wickham, é por isso que você não a quer aqui, não é?

- Pode até ser que este seja um dos motivos, mas o motivo principal é que percebi o objetivo de Wickham ao largar a filha aqui, ele quer nos chantagear quando perceber que você se afeiçoou à criança.

- Não, ele não pode ser tão canalha assim. Eles abandonaram a menina conosco porque querem aproveitar a vida social de Bath, eles não estão de condições de contratar uma babá para cuidar da menina, portanto ela seria um empecilho para que Lydia acompanhasse Wickham aos bailes e festas.

- A razão de Lydia pode ter sido esta, porque é fútil e inconsequente, mas as razões de Wickham são bem outras posso lhe garantir. Ele acha que encontrou uma forma de me extorquir dinheiro, tem certeza que você irá se afeiçoar à menina nestes meses que ficar com ela e aí fará chantagem, ou eu pago o que ele pedir, ou ele leva a filha embora.

- Fitzwilliam como você pode pensar tão mal dele? Usar a própria filha para extorquir dinheiro?

- Não se esqueça que eu o conheço muito bem. Ele não tem afeição por ninguém, por dinheiro Wickham é capaz de qualquer coisa, veja o que ele ia fazer com Georgiana se eu não chegasse a tempo para impedir.

- É, tenho que reconhecer que você tem razão... só que também não queria mandá-la para Longbourn, mamãe, Mary e Kitty não são as pessoas mais qualificadas para cuidar de uma criança como Meg. Ela está precisando de cuidados especiais.

- Mando uma babá junto com a menina e pago todos os cuidados que ela necessitar.

- Fitzwilliam, por favor, deixe eu ficar com ela. Sei que será temporário, que dentro de 4 meses, conforme a carta de Lydia, ela e Wickham virão buscá-la e neste dia deixarei que eles a levem, pois afinal são seus verdadeiros pais.

- Lizzy faz algumas horas que você está com esta menina e você já está apegada a ela, imagine daqui a 4 meses você não irá deixá-la partir, sabendo que voltará a ser negligenciada pelos pais.

- Estou com muita pena dela, ela está precisando de uma boa alimentação, de cuidados com a higiene, de atenção e carinho. Por favor, Fitzwilliam, se você deixar ela ficar, juro que nunca mais pedirei nada a você.

- Lizzy... Lizzy... eu não quero vê-la sofrer na hora que ela for levada pelos pais.

Sentindo que Darcy estava cedendo aos seus apelos, Lizzy lançou mão de um artifício que sabia infalível. Atirou-se nos braços dele e o beijou-o apaixonadamente, colando o seu corpo ao do marido sem nenhum pudor.

- Sua feiticeira... você sabe como conseguir me dobrar à sua vontade.

- Obrigada, meu amor. Você é o melhor marido do mundo!


Capítulo 15

Meg conquistou aos poucos o coração de todos que conviviam com ela. Era uma criança meiga, calma e risonha, estava com 10 meses de idade e já começava a engatinhar pelo chão. Graças aos cuidados que estava recebendo da tia e da babá, a experiente Sra. Perkins, Meg melhorava a olhos vistos, ganhara peso, já não tinha mais assaduras e se tornara um bebê saudável, risonho e feliz.

Lizzy estava adorando cuidar da sobrinha, pelas manhãs passeava com ela pelo parque, conversava com ela sobre todos os assuntos, e a menina parecia entender o que a tia falava, pois prestava muita atenção ao que era dito e ria, mostrando alguns dentinhos no rosto feliz.

Darcy observava com cautela o envolvimento de Lizzy com a menina, a melancolia no olhar dela havia desaparecido e ele teve certeza de que sua mulher precisava urgentemente ter um filho dela, não uma sobrinha que estava temporariamente com eles e que poderia a qualquer momento ser levada embora pelos pais.

Darcy nunca tivera muito jeito com crianças, mesmo sua amada irmã Georgiana quando menina causara-lhe certo desconforto quando em sua companhia. Ele procurava evitar qualquer envolvimento emocional com a pequena Margareth Wickham, tinha certeza de que a criança ainda seria uma fonte de problemas para ele. Nunca a pegava no colo ou brincava com ela e Lizzy percebendo o mal estar de Darcy evitava trazê-la na presença dele. Mas ironicamente a menina parecia não ter medo do rosto sisudo do tio, toda vez que o via abria o sorriso mais luminoso para ele e estendia os bracinhos para que ele a carregasse. Lizzy que sempre estava presente nestes encontros, logo se antecipava e pegava a sobrinha, jamais pedindo a ele que pegasse a menina no colo, pois entendia e respeitava a reserva dele em relação à criança.

Lydia, às vezes, escrevia para Lizzy perguntando da filha, mas não parecia muito preocupada com esta, pois após uns poucos protestos de como amava a filha e estava saudosa dela, logo a carta passava a estender-se sobre a grandiosidade e o brilho dos bailes e festas em que comparecera, descrevendo detalhadamente os vestidos e chapéus das damas mais elegantes, contando sobre o grande círculo de amizades que fizera em Bath.

Havia se passado 3 meses que Meg estava em Pemberley quando Lizzy descobriu-se grávida, primeiro a menstruação que estava atrasada, em seguida os enjôos matinais e logo o Dr. Foster confirmou a suspeita.

- Parabéns, Sra. Darcy! Confirmando o que lhe disse há meses atrás, a senhora é perfeitamente saudável para gerar quantos Darcys quiser. Considero que a presença de sua sobrinha deve ter contribuído para a senhora esquecer a ansiedade que a estava impedindo de engravidar.

Lizzy concordava com a teoria do médico, depois que Meg viera, ela esquecera completamente sua ansiedade e este relaxamento certamente contribuíra para que ela engravidasse.

- Meu amor, você não poderia que dar uma notícia melhor. Estou muito feliz! Quero que siga a risca as orientações do Dr. Foster, acho que você deve evitar carregar Meg no colo, ela já está bastante pesada e pode lhe fazer mal. Outra coisa que me preocupa são estas caminhadas longas que você gosta tanto, pode lhe fazer mal no seu estado.

- Fitzwilliam, eu estou grávida e não inválida, sou uma mulher saudável e os exercícios só me farão bem.

************************
A gravidez de Lizzy transcorreu normalmente, às vezes, o excesso de cuidados com que Darcy a acumulava, chegava até a irritá-la, pois ela se sentia muito bem permanecendo ativa, enquanto ele queria que ela ficasse mais tranqüila, o que ia contra sua natureza. Ele passou a ficar mais tempo com a mulher e consequentemente a conviver mais com Meg, a fim de evitar que Lizzy carregasse Meg no colo, Darcy começou a carregá-la, a princípio desajeitadamente, mas aos poucos começou a se sentir à vontade com a menina, que adorava estar no colo do tio. E apesar de sua luta em se manter distante da menina, ela o cativou de tal forma que em pouco tempo teve certeza de que a amava profundamente, no que era correspondido plenamente.

Quando se aproximou a época do parto os pais de Elizabeth chegaram a Pemberley, Darcy embora contrariado recebeu-os cordialmente, sabia que a Sra. Bennet, com seus pobres nervos, seria de pouca ajuda na hora do parto da filha. Mas, agüentou estoicamente a sogra que suportava apenas em consideração à esposa.

O parto ocorreu numa madrugada chuvosa, em que a parteira e o Dr. Foster foram arrancados de suas respectivas camas pelos criados do Sr. Darcy. Apesar de tudo ter corrido dentro da normalidade, Darcy pensou que enlouqueceria enquanto dava voltas na sala passando toda hora a mão na cabeleira desgrenhada.

- Calma, meu rapaz, Lizzie está em boas mãos, é uma menina saudável e não terá problemas no parto.

Por fim, após algumas horas de agonia, o próprio Dr. Foster anunciou:

- Uma linda menina, Sr. Darcy. Meus parabéns! A Sra. Darcy está bem e deseja vê-lo.

Darcy correu ao encontro de Lizzy, encontrou-a cansada e sonolenta. Ela o recebeu com um sorriso.

- Fitzwilliam, venha ver a nossa garota, como ela é linda!

Ele se debruçou sobre o pequeno embrulho nos braços da esposa, o bebê dormia tranquilo , tinha cabelos escuros e os traços eram totalmente indefinidos, mas para ele era a criatura mais linda sobre a face da terra, fruto de seu amor por Lizzy.

- Meu amor, estou tão feliz. Muito obrigada pelo presente que me deu. - disse ele beijando-lhe a testa comovido.

- Como vamos chamá-la?

- Quero que você escolha o nome, afinal o trabalho maior para trazê-la foi seu, Lizzy?

- Gostaria de chamá-la Victoria.

- Então será Victoria. Ela é tão pequena para um nome tão comprido, vou chamá-la de Torie.

- Fitzwilliam, você não está decepcionado porque não é um menino?

- Claro que não, adoro meninas. E depois poderemos ter outros filhos.

- E se acontecer conosco o que aconteceu com meus pais, cinco meninas e nenhum menino. Nenhum herdeiro de Pemberley.

- A convivência com sua mãe não está lhe fazendo bem, anda preocupada com algo que não aconteceu. Se tivermos cinco meninas, amarei cada uma delas e como já lhe disse teremos o recurso do filho de Georgiana ser o herdeiro. Não se preocupe com isso, agora descanse você está precisando dormir.

****************
O tempo foi passando e as cartas de Lydia comunicavam a cada mês que ainda não poderia vir buscar a filha, fazia 10 meses que Meg estava em Pemberley quando finalmente Lydia apareceu para buscar a filha.

Meg que estava com 1 ano e 8 meses, já andava e falava, olhou para a mãe com um sorriso tímido quando esta a abraçou e beijou.

- É a mamãe, Meg. Vim te buscar para você ir morar conosco.

A menina assustada aceitou o carinho da mãe, mas logo correu para perto de sua tia Lizzy.

- Ela está estranhando você, Lydia. Infelizmente, era muito pequena e não se lembra de você. Vai demorar um pouco até que se acostume novamente com você. Seria melhor que você ficasse um tempo aqui em Pemberley com ela antes de levá-la embora.

- Lizzy, não posso me demorar aqui. Wickham precisou sair de Bath, sabe aqueles velhos problemas de dívidas de jogo e estamos voltando para Newcastle, ele está me esperando na hospedaria em Lambton. Vamos embora amanhã pela manhã.

- Mas, você não pode fazer isto com sua própria filha. Deixe Wickham ir embora amanhã e fique aqui conosco pelo menos algumas semanas, até que Meg se acostume a você novamente. Acho que será melhor para ela.

- Você só pensa em Meg, e o que é melhor para mim? Você não sabe que saímos de Newcastle porque Wickham se envolveu com uma mulher e agora se o deixo partir sem mim, tenho certeza de que quando eu voltar lá, ele estará envolvido novamente com aquela sirigaita. Meg terá que se acostumar conosco, que somos seus pais, quer queira, quer não.

A sra. Bennet que estava presente tentou acalmar a filha.

- Lydia, minha querida, porque não faz como Lizzy disse, fique pelo menos uma semana. Meg é uma menina tão meiga que logo aceitará ir embora com você de bom grado.

- Mamãe, ela é minha filha, irá comigo agora. Lizzy, mande preparar as coisas dela já.

Lizzy jamais esqueceria a tristeza que foi a partida de Meg de Pemberley, ela procurou não chorar embora o seu coração estivesse partido para não assustar ainda mais a pobre menina que acompanhou a mãe na carruagem aos prantos, tentando até o último minuto se agarrar às pernas da tia.

Quando Darcy voltou para casa, Lizzy se atirou em seus braços aos pratos.

- Eu sabia que ela um dia teria que partir, mas não da forma que foi levada, ela saiu arrastada por Lydia... chorando muito... Como a pobrezinha deve estar sofrendo, tão acostumada que estava conosco. E não podemos fazer nada...

- Lizzy, meu amor, estou pensando se eu oferecer dinheiro àquele maldito, com certeza, ele abrirá mão da filha.

- Mas, você mesmo disse quando ela chegou aqui que não a queria porque sabia que ela se tornaria uma moeda de barganha para Wickham e suas previsões se concretizaram.

- Neste tempo que Meg ficou conosco, aprendi a amá-la e não quero que ela sofra na mão de pais tão irresponsáveis e levianos. Tenho uma dívida de gratidão a ela, pois ela além de alegrar nossa casa, foi graças a ela que tivemos a nossa Torie. Quero criá-la junto com os filhos que tivermos e dar a ela uma família, conforto e amor que ela merece. Vou falar com Wickham.

Neste instante a Sra. Bennet que permanecera calada ouvindo o genro, virou-se para ele e disse indignada.

- Não, Sr. Darcy, eu irei falar com minha filha e meu genro! Peço que providencie uma carruagem para eu ir até Lambton. Vou trazer minha neta de volta.

Darcy jamais vira a Sra. Bennet tão decidida, ofereceu-se para acompanhá-la, mas ela foi categórica.

- Não, o senhor fique fazendo companhia a Lizzy que está precisando de seu apoio. Vou com o Sr. Bennet.

O Sr. e a Sra. Bennet retornaram a Pemberley umas três horas depois de terem partido, traziam a pequena Meg e sua bagagem de volta. A menina se atirou nos braços de Lizzy e depois nos de Darcy numa alegria que transbordava em seu semblante.

- Meu Deus, que bom que você voltou, Meg querida. Mamãe como você conseguiu trazê-la de volta. Conte-nos tudo que aconteceu.

- Não foi uma tarefa muito difícil, Lizzy. Meg não havia parado de chorar desde que deixou Pemberley e Lydia e Wickham não sabiam mais o que fazer, estavam desesperados com o choro da menina. Houve até reclamação dos demais hóspedes da hospedaria. Aí usei minha autoridade de avó e disse que deixassem Meg ficar com vocês, que ela estava sendo muito bem cuidada, e que o Sr. Darcy iria prover o futuro dela, para que levá-la com eles para fazê-la passar necessidades e uma vida de ciganos indo de uma cidade para outra. Então, o Sr. Wickham teve o desplante de sugerir que o Sr. Darcy poderia ajudá-lo na carreira. Eu disse-lhe que não ousasse usar a própria filha para barganhar favores. Por fim, convenci Lydia que seria melhor deixar Meg com vocês e aqui estamos. Agora que tudo passou, sinto meus pobres nervos, parece que vou desmaiar!

- Pode desmaiar à vontade, Sra. Bennet, tem minha permissão. Pela primeira vez nestes 25 que estamos casados a senhora fez algo sensato. - comentou jocosamente o Sr. Bennet.

Darcy ouviu a explicação da Sra. Bennet pasmo, nunca esperara que a sogra fosse capaz de tomar uma decisão como aquela. Sentiu que a antipatia que sempre sentira por ela até aquela data, diminuíra muito. Já estava começando a achá-la tolerável, apesar do ataque dos pobres nervos que se faziam presentes, neste momento.


Epílogo

Elizabeth penteava seus longos cabelos castanhos e olhava sua imagem refletida no imenso espelho de cristal do toucador, seu rosto já não era o da jovem esposa que chegara a Pemberley com vinte e um anos. Este ano completava 30, mas não tinha nada a lamentar, era uma mulher afortunada, tinha um marido maravilhoso, 5 filhos lindos, sim, porque considerava Meg Wickham tão sua, como os demais, após Victoria, vieram os 3 meninos, William, o herdeiro de Pemberley, Jonathan e por fim Frank, uma nova geração de Darcys para perpetuar o legado da família.

Meg estava com quase 9 anos e era considerada pelas demais crianças como a irmã mais velha. Ficava cada dia mais linda e meiga, lembrando não só na aparência, mas principalmente na personalidade e caráter sua tia Jane, como eram estranhos os desígnios de Deus, que dera a um casal tão desestruturado como Wickham e Lydia, uma filha tão equilibrada e serena. Não se ouvia de sua boca uma palavra rude para com os primos, os criados e simplesmente adorava sua tia Lizzy e seu tio Fitzwilliam.

Lydia vinha, de tempos em tempos, visitar a única filha, pois tivera o bom senso de não ter mais filhos. Meg era carinhosa com a mãe, procurando agradá-la de todas as formas, mas quando esta a convidava a ir morar com ela, dizia que não poderia ir, pois tinha que ajudar tia Lizzy a cuidar das crianças menores. Embora entristecida pela resposta da filha, Lydia compreendia que não poderia oferecer à filha o conforto, a tranquilidade e o amor que esta tinha na casa dos Darcy, pois Wickham, além do vício do jogo que minava a pouca renda que tinham, ultimamente tinha se tornado um alcóolatra.

O Sr. Bennet falecera há três anos, deixando para o Sr. Collins a propriedade de Longbourn, como era do conhecimento de todos. Mas, a Sra. Bennet não ficou desamparada, recebeu de presente dos genros Darcy e Bingley uma bela casa em Meryton perto de sua irmã Sra. Phillips, costumava vir a Pemberley uma vez por ano para uma visita. Apesar dos esforços de Darcy para conviver bem com a sogra, os modos ou melhor a falta deles continuavam a irritá-lo sobremaneira.
Jane e Charles Bingley moravam agora numa propriedade no condado vizinho a Derbyshire, estavam a apenas 50 km. de distância de Pemberley, tinha três meninos, que quando vinham visitar Pemberley, se juntavam aos primos e faltavam por a casa a baixo, com suas travessuras, correrias, algazarras e gritarias, era preciso muito pulso de Jane e Lizzy para fazê-los se comportar.

Caroline Bingley nunca mais veio a Pemberley, ia visitar ocasionalmente o irmão e Jane, continuava solteira e sempre que podia não poupava críticas severas a Elizabeth, mas poucas pessoas davam crédito a ela, considerando tais críticas puro despeito.

Georgiana casara há uns anos atrás com um rapaz de excelente família, tinham dois filhos e moravam em Londres.

- Lizzy, meu amor, por que está demorando tanto para vir deitar?

- Já estou indo Fitzwilliam, estava pensando na vida... como o tempo passou...que vou fazer 30 anos...

- Venha cá... - Lizzy deitou-se na cama e foi envolvida pelos braços do marido. Ela adorava este momento da noite quando ficava aconchegada nos braços de Darcy, sentido seu corpo forte junto ao dela, seu perfume, seu calor. Mesmo quando não faziam amor, era tão bom compartilhar esta intimidade tão prosaica.

- Lizzy, esqueci de lhe contar, recebi hoje uma carta de minha tia Lady Catherine, ela virá a Pemberley na semana que vem para nos fazer uma visita.

- Dai-me paciência, Senhor! Todas às vezes que ela vem fico parecendo minha mãe, sofrendo dos meus pobres nervos. Ela tem que dar palpite em tudo, na administração da casa, na educação das crianças, nos criados, da outra vez que ela esteve aqui teve a petulância de dizer que era muito impróprio um casal de nosso nível ocupar apenas um quarto.

- E como ela ficou sabendo disto?

- Não sei, certamente andou perguntando às criadas.

Darcy caiu na gargalhada e falou entre risos

- Nesta altura dos acontecimentos você deveria estar acostumada com minha tia. Faça como eu, finja que ouve os conselhos dela e não dê a mínima a eles, deixe para que o Sr. Collins os siga a risca.

Querendo por fim àquela conversa, Darcy procurou os lábios de Lizzy beijando-os com paixão, sendo correspondido com o mesmo ardor.

A noite de Pemberley foi mais uma vez testemunha da cavalgada daqueles amantes rumo ao êxtase que sempre encontravam nos braços um do outro.


*********************************************FIM*************************************************************

16 comentários:

Neni Burelli disse...

Adorei sua fanfic realmente muito boa :D

BibiAlbano disse...

Aiiin, amei sua fic, sweet. Você escreve maravilhosamente bem e a história é ótima o/

Vou ler a outra, mas temo não conseguir terminar hoje...

Bjuuus

TMC disse...

Adorei também!!!! Você citou detalhes do original, ficou dez!!!! Sou muito viciada neste romance!!!! Parabéns!!!

Unknown disse...

Ameeei mt mt mt sou uma grande fa deste classico e nunca havia lido uma fic relacionada a esta bela história

Livraria da Haruka disse...

Nossa Parabéns adorei essa história

Anônimo disse...

Queria Helena você simplesmente conseguiu absorver na sua história a essência de "Darcy e Lizzy". Amei, sou apaixonada por Jane Austen, e´o livro Orgulho e Preconceito e o meu favorito. As descrições do capitulo 7 e 11, são cenas quentes, porem dignas do amor deles. Parabéns, e aguardando sua reposta.

Anônimo disse...

Queria Helena você simplesmente conseguiu absorver na sua história a essência de "Darcy e Lizzy". Amei, sou apaixonada por Jane Austen, e´o livro Orgulho e Preconceito e o meu favorito. As descrições do capitulo 7 e 11, são cenas quentes, porem dignas do amor deles. Parabéns, e aguardando sua reposta.

Unknown disse...

amei obrigado por ser tao gentil maravilhosa Eo que esperava brigaduuuuuuuuuu.

Diário Sexual Historias picantes disse...

Gostei muito

Unknown disse...

Amei a sua história, é muito lindo e emocionante a história de DARCY E LIZZIE SEMPRE E SEMPRE......Amei...Muito libda e muito criativa.

Unknown disse...

Parabéns ppela sua história, é linda,DARCY E LIZZIE SEMPRE E SEMPRE ETERNAMENTE JUNTOS. ELES SÃO PERFEITOS. AMEI.

Unknown disse...

AMEI A SUA HISTÓRIA É MUITO LINDA E EMOCIONANTE E LINDA, DARCY E LIZZIE SEMPRE E SEMPRE.

Anônimo disse...

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Unknown disse...

Eu amei essa estoria queria as continuações 😍

Natyh Cris disse...

AMEI... PARABÉNS PELA FANFIC 😍😍👏👏👏👏

Julieny disse...

Oi, Helena. Amo suas fics. Senti imensa falta delas no site "Jane Austen Fanfics". Principalmente a fic "Caminhos do Amor". Ficaria muito feliz se conseguisse lê-la novamente. ☺️